Manchetes Socioambientais
As notícias mais relevantes para você formar sua opinião sobre a pauta socioambiental
“O encontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança entre parceiros igualmente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio perpétuo do mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim.”
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos fundadores do ISA
O tema "Povos Indígenas" está na origem da existência do Instituto Socioambiental. Lá se vão pelo menos quatro décadas de comprometimento e trabalho com o tema, produzindo informações para a sociedade brasileira conhecer melhor seus povos originários. Desde sua fundação, em 1994, o ISA dá continuidade ao trabalho do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que havia sido iniciado em 1980 e que, por sua vez, remonta ao começo dos anos 1970, quando o então governo da ditadura militar lançava o Plano de Integração Nacional, com forte componente de obras de infraestrutura na Amazônia, região que era então descrita pelo discurso oficial como um "vazio demográfico".
Por meio dos relatos coletados, dados produzidos e pesquisas empreendidas por uma rede de colaboradores espalhada pelas diversas regiões do País, o Cedi ajudou a derrubar essa tese. Ao dar publicidade às informações levantadas por essa rede social do tempo do telex, o Cedi colocou, definitivamente, os povos indígenas e suas terras no mapa do Brasil. Seus integrantes ainda participaram ativamente no movimento de inclusão dos direitos indígenas na Constituição de 1988 e, juntamente com integrantes do Núcleo de Direitos Indígenas (NDI) e ativistas ambientais, fundaram o ISA em 1994.
De lá para cá, ampliando sua rede de colaboradores em todo o País, o ISA se consolidou como referência nacional e internacional na produção, análise e difusão de informações qualificadas sobre os povos indígenas no Brasil. O site "Povos Indígenas no Brasil", lançado em 1997, é a maior enciclopédia publicada sobre as etnias indígenas no Brasil, com suas línguas, modos de vida, expressões artísticas etc. O site é uma das principais referências sobre o tema para pesquisadores, jornalistas, estudantes e acadêmicos.
A atuação hoje é transversal aos territórios onde atuamos, especialmente na Bacia do Xingu, no Mato Grosso e Pará, e Bacia do Rio Negro, no Amazonas e Roraima, e também envolve povos indígenas de todo o Brasil, por meio da atualização permanente do site e de seus mais de 200 verbetes, inclusão de novos textos sobre etnias emergentes e indígenas recém-contatados, além do monitoramento e cobertura jornalística sobre situações de violência e perda de direitos contra estas populações. O tema "Povos Indígenas" ainda é tratado no site "PIB Mirim", voltado ao público infanto juvenil e de educadores.
O monitoramento de Terras Indígenas também é um eixo central do nosso trabalho com o tema, e remonta à sistematização de dados e divulgação de informações iniciada pelo Cedi em 1986, e se dá por meio da produção de livros impressos e mapas temáticos sobre pressões e ameaças, como desmatamento, mineração, garimpo, obras de infraestrutura, entre outras, além do site "Terras Indígenas no Brasil".
Confira os conteúdos produzidos sobre este tema:
|
Imagem
|
Em formato de enciclopédia, é considerado a principal referência sobre o tema no país e no mundo |
|
Imagem
|
A mais completa fonte de informações sobre o tema no país |
|
Imagem
|
Site especial voltado ao público infanto-juvenil e de educadores |
|
Imagem
|
Painel de indicadores de consolidação territorial para as Terras Indígenas |
“A Rede Wayuri foi quem nos inspirou”, afirmou o comunicador indígena Tukumã Pataxó na abertura da rádio, criada pela Apib e Conaq
Na tarde da última sexta-feira, 1º de agosto, foi ao ar a primeira transmissão da Rádio Nacional dos Povos, diretamente do Estúdio Roça, na Universidade de Brasília (UnB). Comandada por comunicadores indígenas e quilombolas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), de diversas regiões do Brasil, a estreia marca um momento histórico de celebração da comunicação feita a partir dos territórios para os próprios territórios.
A Rede Wayuri de Comunicadores Indígenas do Rio Negro, referência em comunicação indígena na Amazônia, esteve presente no evento, representada pelas comunicadoras Claudia Ferraz, do povo Wanano, e Nayra Sthefany, do povo Baniwa.
Claudia foi entrevistada ao vivo no programa Fala Comigo, Parente!, apresentado pelo ativista e comunicador indígena Tukumã Pataxó, que destacou a importância da rede como referência para outros coletivos. “A Rede Wayuri foi quem nos inspirou também com a comunicação, com o rádio, e a partir do significado do próprio nome: a comunicação como trabalho coletivo”.
Confira a transmissão de estreia completa aqui!
Durante a conversa, Claudia compartilhou a trajetória da Rede Wayuri e da Rádio Online Wayuri, que completará dois anos em novembro. “Nossa rádio nasceu da necessidade de levar informações importantes aos nossos quadrantes dentro do território. A gente sente muito orgulho porque são os próprios parentes comunicando, falando nas nossas línguas, com nosso jeito. Isso nos fortalece e aproxima”, afirmou Claudinha.
A transmissão contou ainda com a participação ao vivo do comunicador José Paulo, do povo Piratapuya, diretamente do estúdio da Rádio Online Wayuri em São Gabriel da Cachoeira (AM). José também destacou a força coletiva que sustenta essas iniciativas e celebrou a criação da nova emissora: “Estamos aqui para somar forças na construção da programação da Rádio dos Povos”.
Entre os convidados especiais, esteva também o presidente e sócio fundador do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli, que foi entrevistado durante a programação pela dupla de apresentadores Nathalia Purificação (Conaq) e Yago Kaingang (Apib). Santilli ressaltou a importância da criação da Rádio Nacional dos Povos como uma representação de uma virada simbólica e prática na luta por visibilidade e pelo direito à palavra.
“É um momento histórico, de virada. Por isso fiz questão de vir aqui com vocês, escutar um pouquinho. É impressionante e emocionante. Vocês estão assumindo de frente esse processo de comunicação, de passar mensagem para todo mundo. A gente espera que seja um grande sucesso”, comentou.
Leia também:
Rádio Nacional dos Povos leva comunicação indígena e quilombola à linha de frente da COP30
Para ouvir a Rádio Nacional dos Povos, basta acessar o link www.radionacionaldospovos.com.br ou baixar o aplicativo. A proposta da iniciativa é colocar no centro da conversa sobre o clima as vozes e experiências de povos que resistem há gerações aos impactos da destruição ambiental em seus territórios.
A programação será transmitida todas as sextas-feiras, das 14h às 17h, com um giro de notícias conduzido por comunicadores da Apib e da Conaq seguido de programas temáticos como Fala Comigo, Parente!, Mães em Movimento, Avós do Brasil e Tybyra, abordando maternidade, ancestralidade e vivências LGBTQIA+ nos territórios. Durante a semana, a programação segue com músicas, entrevistas, poesias e áudios históricos.
A Rádio Nacional dos Povos segue com chamada aberta para receber conteúdos colaborativos. Comunicadores, artistas e organizações de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais podem enviar áudios, músicas, podcasts e outros materiais. Basta preencher o formulário no site.
Notícias e reportagens relacionadas
Parceria entre o ISA e a ANMIGA, iniciativa fez parte da abertura da IV Marcha das Mulheres Indígenas
Em um marco histórico para a visibilidade e fortalecimento das mulheres indígenas no Brasil, foi lançado neste domingo (3/8) o "Mapa Interativo das Organizações das Mulheres Indígenas no Brasil". A cerimônia de lançamento ocorreu durante a abertura da IV Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília, e incluiu a entrega simbólica do Mapa à deputada Célia Xakriabá.
O Mapa Interativo é uma ferramenta digital que pretende trazer visibilidade às diversas organizações e coletivos liderados por mulheres indígenas em todo o território nacional. Desenvolvido em uma plataforma dinâmica e interativa, ele permite a identificação das iniciativas por região, com dados como site e rede social de cada organização. A proposta é facilitar a conexão entre organizações, como forma de fortalecer a ação articulada de mulheres indígenas. Acesse aqui.
Fruto de uma parceria entre a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e o Instituto Socioambiental (ISA), o lançamento marca mais uma etapa no processo da construção coletiva do mapeamento de organizações de mulheres indígenas no país.
A primeira edição, lançada em 2020, havia identificado 92 organizações. A partir de um chamado da Anmiga e da parceria, a segunda edição, por sua vez, identificou 241 organizações, um aumento em duas vezes e meio do número de coletivos do gênero. Agora, o Mapa Interativo, permite uma atualização periódica e o acompanhamento do crescimento do associativismo de mulheres indígenas.
“Muitas organizações ficaram de fora quando imprimimos o mapa. Então, a gente conversou com o ISA e pensou em como resolver e tivemos a ideia de ter um mapa virtual, para que a gente possa atualizar esse mapa e cada vez mais as organizações de mulheres indígenas possam aparecer e se identificar, registrar as mulheres, a região, o estado”, explicou Joziléia Kaingang, diretora-executiva da Anmiga.
“Além disso, a gente vai fazer com que esse mapa chegue a quem mais interessa, que são as mulheres indígenas. Qualquer mulher indígena que tenha acesso à internet poderá acessar esse mapa, poderá identificar a sua organização e organizações parceiras para articular, para poder fazer planos conjuntos, para se mobilizar a fortalecer a luta”, complementou Luma Prado, pesquisadora do ISA responsável por essa edição.
O lançamento do Mapa Interativo é um passo crucial para a consolidação da rede de mulheres indígenas no Brasil, que desempenham um papel fundamental na defesa de seus territórios, modos de vida, direitos e na luta contra todas as formas de violência. A plataforma servirá como um recurso valioso para pesquisa, para construção de políticas públicas e para inspirar novos coletivos de mulheres indígenas, defenderam durante o evento que também contou com uma exibição de um vídeo apresentando o mapa.
O material audiovisual, produzido pelas cineastas Francy Baniwa, Kerexu Martim e Vanuzia Pataxó, em parceria com a Rede Katahirine, traz o relato das mulheres indígenas e os coletivos dos quais representam. Com apresentação da ativista e comunicadora Sâmela Sateré-Mawé, o vídeo remonta o processo de construção do Mapa, com pesquisadoras da Anmiga e do ISA e a checagem dos dados no 19º Acampamento Terra Livre, em 2024.
ISA na IV Marcha das Mulheres Indígenas 2025
Somado ao lançamento do mapa, desde domingo é possível navegar pelo Mapa Interativo na tenda do ISA no “Espaço das Vozes Aliadas”. O ISA estará presente ao longo de toda a Marcha e da I Conferência das Mulheres Indígenas.
Além da navegação no Mapa Interativo, também estão sendo distribuídas a versão impressa do Mapa das Organizações das Mulheres Indígenas no Brasil 2024 e a publicação Cuidados e prevenção no enfrentamento à violência contra mulheres no Rio Negro, uma parceria entre o ISA, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), o Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN), a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e do projeto Cosmopolíticas do Cuidado no Fim-do-mundo.
Notícias e reportagens relacionadas
ISA lança edital para professores, Mapa Interativo das Organizações das Mulheres Indígenas e mais uma série de conteúdos inéditos
Começa nesta sexta-feira (01/08), o Agosto Indígena, efeméride que marca o mês em que é celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas (09/08). Para ampliar a valorização das lutas, diversidade cultural e a contribuição dos povos indígenas para a sociedade, o Instituto Socioambiental (ISA) promove um calendário repleto de lançamentos, atividades e conteúdos inéditos.
Entre os destaques estão o Edital Aldear a Educação Básica, que busca reconhecer e divulgar experiências no ensino de histórias, culturas e saberes indígenas nas salas de aula brasileiras; o Mapa Interativo das Organizações das Mulheres Indígenas; e o podcast Floresta no Centro, para estimular escutas e trocas sobre territórios, culturas e resistências indígenas.
O dia 9 de agosto foi instituído como Dia Internacional dos Povos Indígenas pelas Nações Unidas em 1994 para celebrar a importância dos povos indígenas, seus saberes e unir esforços pela garantia aos direitos previstos na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos Indígenas.
Em 2024, o ISA marcou a efeméride com o lançamento do documentário Nosso modo de lutar, uma parceria com a Rede Katahirine, que explora a perspectiva de Francy Baniwa, Kerexu Martim e Vanuzia Pataxó, três cineastas mulheres indígenas, sobre o Acampamento Terra Livre (ATL).
Iniciativas como essas buscam reconhecer e valorizar a riqueza e pluralidade das culturas indígenas no Brasil, que somam 1,7 milhões de pessoas, de 278 povos indígenas diferentes e falantes de mais de 170 línguas.
Toda essa diversidade também se expressa na territorialidade: hoje são mais de 800 Terras Indígenas, presentes em todos os biomas brasileiros e unidades da federação. Grande parte dos indígenas, entretanto, vive em outros contextos territoriais, como cidades ou áreas ainda não demarcadas, na luta pelo direito à terra e à existência. Saiba mais.
Programação
Começando a celebração deste ano, nos dias 3 a 8 de agosto, o ISA acompanhará em Brasília a IV Marcha das Mulheres Indígenas, realizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) sob o tema “Nosso Corpo, Nosso Território: Somos as Guardiãs do Planeta Pela Cura na Terra”.
Com expectativa de reunir ao menos cinco mil pessoas, a Marcha será palco do lançamento do Mapa Interativo das Organizações das Mulheres Indígenas no Brasil, fruto de parceria entre a Anmiga e o ISA. Lançado em versão física em novembro de 2024, a partir do dia 3/8, será possível navegar online pelo mapa, que além das centenas de organizações, possui entre as suas camadas os seis biomas e as 809 Terras Indígenas em diferentes fases do procedimento demarcatório identificadas. O mapa, que agora contará com atualizações periódicas, já identificou 241 articulações do gênero por todo o país até o momento.
A Marcha deste ano também receberá a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas, resultado de um acordo entre o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Ministério das Mulheres (MMulheres) e a Anmiga, que acontece entre os dias 4 e 8 de agosto.
No dia 18, serão abertas as inscrições para o “Aldear a Educação Básica: Fortalecendo a Lei 11.645/08, por mais histórias, culturas e saberes indígenas nas salas de aula no Brasil”. Destinado a professores indígenas e não-indígenas, a iniciativa selecionará as dez experiências mais criativas e com maior potencial de impacto na comunidade escolar com o objetivo de valorizar ações educativas no ensino de histórias, culturas e saberes indígenas nas salas de aula brasileiras.
A iniciativa é uma realização do Fórum Nacional de Educação Escolar Indígnea (FNEEI) e do ISA, com parceria do Instituto Alana, e busca fortalecer a aplicação da Lei nº 11.645/08, que determina o ensino de histórias e culturas afrobrasileiras, africanas e indígenas nas salas de aula da educação básica.
Com enfoque no ensino sobre povos indígenas, o edital busca combater o racismo, reconhecer a importância dos conhecimentos dos povos indígenas para o enfrentamento da crise climática e evidenciar histórias indígenas milenares até as mais recentes que têm lugar no território atualmente reconhecido como Brasil.
Irá ao ar também em agosto o episódio de lançamento do podcast “Floresta no Centro”. A produção busca transmitir e disseminar os saberes compartilhados nas rodas de conversa sediadas no espaço Floresta no Centro, a loja e espaço de eventos do ISA localizado no centro da capital paulista. O primeiro episódio da série traz a troca entre a professora e liderança Ehuana Yanomami e a psicóloga e escritora Geni Núñez, com a mediação e tradução da antropóloga indigenista Ana Maria Machado.
Além de outros conteúdos especiais nos canais do ISA, durante todo o mês, ou enquanto durarem os estoques, estará disponível na loja do ISA um kit com a publicação Povos Indígenas no Brasil 2017-2022 e uma camiseta sortida da sociobiodiversidade, pelo valor de R$130,00. Garanta já o seu kit no link.
Atuação do ISA
A ação dá sequência ao trabalho desenvolvido pelo Instituto Socioambiental desde sua criação, em 1994. Ao longo dos últimos 30 anos, o ISA vem trabalhando ao lado de comunidades, coletivos e organizações indígenas pela defesa da sociodiversidade dos povos e seus direitos garantidos pela Constituição Federal. Além da atuação com parceiros local e nacionalmente, o ISA é responsável pelas plataformas online Povos Indígenas no Brasil; Terras Indígenas no Brasil; além da série de livros Povos Indígenas no Brasil, e do monitoramento de Terras Indígenas com presença de povos indígenas isolados, o Sirad-I.
Leia também:
Enciclopédia Povos Indígenas no Brasil é destaque em evento na Universidade de São Paulo
Sobre a Anmiga
Articuladora da Marcha das Mulheres Indígenas e parceira na produção do mapa, a Anmiga é uma organização de mulheres originárias dos seis biomas do País – Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pampa e Pantanal. Por meio de uma construção coletiva, elas buscam fortalecer a luta pelo bem viver e por seus territórios, a partir do protagonismo das mulheres e da valorização de seus saberes tradicionais.
Sobre o FNEEI
O Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI) é um espaço de diálogo e articulação entre lideranças indígenas, educadores e o Estado, em defesa de uma educação escolar indígena específica, diferenciada e intercultural. Criado em 2015, o Fórum atua na promoção de políticas públicas que valorizem os saberes tradicionais, as línguas e os territórios indígenas, conforme previsto na Constituição e no Plano Nacional de Educação, reafirmando seu papel de resistência frente aos retrocessos nos direitos dos povos indígenas.
Notícias e reportagens relacionadas
Gelson deixa um legado marcado pelo diálogo e por uma incansável luta pelos direitos indígenas em Roraima
É com imenso pesar que o Instituto Socioambiental (ISA) recebe a notícia do falecimento de Gelson José Martins, liderança referência do povo Ingarikó.
Nascido na Serra do Sol, na década de 1970, Gelson dedicou sua vida à defesa de seu território e de sua cultura. Como presidente do Conselho do Povo Ingarikó e Tuxaua da Serra do Sol, sua liderança foi marcada pelo diálogo e por uma incansável luta pelos direitos indígenas.
Sua atuação foi decisiva na construção do Plano de Gestão do território Ingarikó e do Plano de Manejo do Parque Nacional do Monte Roraima, auxiliando na construção de ferramentas inovadores de gestão compartilhada.
Gelson deixa um legado de coragem, resistência e amor pela terra, que continuará a inspirar a todos que o conheceram. Sua partida representa uma enorme e irreparável perda para o movimento indígena de Roraima.
Em nota oficial, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) prestou condolências à família e à comunidade Ingarikó, valorizando o legado de liderança e resistência de Gelson.
O ISA se solidariza com a família, amigos e com todo o povo Ingarikó neste momento de dor e perda.
Notícias e reportagens relacionadas
Obra de Beto Ricardo, um dos fundadores do ISA, e Ricardo Arnt navega pelas memórias do socioambientalismo no Brasil
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou nesta semana os finalistas da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico em 26 categorias. Na categoria Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais está a obra “Uma Enciclopédia nos Trópicos”, de Beto Ricardo, antropólogo e um dos fundadores do Instituto Socioambiental (ISA), e do jornalista e escritor Ricardo Arnt.
Figura central do movimento indigenista, Beto Ricardo foi corresponsável por ações fundamentais na defesa dos direitos dos povos indígenas no Brasil e pela conservação do meio ambiente.
O livro, lançado em 2024 pela Zahar, selo da Cia das Letras, traz parte das histórias do movimento socioambiental no país, contadas a partir das memórias de Beto.
Um dos marcos narrados é a criação do programa Povos Indígenas no Brasil, herança que o ISA recebeu do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) e que reunia, sistematizava e divulgava informações cruciais sobre os povos indígenas em um período em que o Estado brasileiro insistia em negar sua existência.
O programa criou a Enciclopédia “Pibão”, como ficou conhecida a base de dados pioneira, referência nacional e internacional e alicerce fundamental para o trabalho do ISA.
A obra relembra este e outros marcos históricos de sua atuação, além dos caminhos que levaram à criação do ISA. O livro, que contém 18 capítulos, traz prefácio do escritor e ativista indígena Ailton Krenak e posfácio do jornalista Leão Serva.
A cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti será realizada no dia 5 de agosto, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo (SP).
Notícias e reportagens relacionadas
Primeira oficina do Ciclo de Estudos Interculturais conecta políticas climáticas globais e nacionais às realidades indígenas, com foco em carbono, governança e justiça climática na Amazônia
Em ano de Conferência do Clima na Amazônia (COP 30), os povos indígenas fortalecem o diálogo intercultural sobre aspectos da governança climática global, geopolítica, economia e política de modo que temas como regulamentação do mercado de carbono e pagamento por serviços ambientais possam ser objeto de debate e reflexão de forma democrática, inclusiva e pé no chão junto às comunidades no Amazonas.
Estabelecer conexões entre o pensamento indígena e as estratégias de mitigação e adaptação às alterações climáticas previstas no âmbito das negociações internacionais, também foi um dos objetivos do Ciclo de Estudos Interculturais em Políticas Climáticas, iniciado com a primeira oficina presencial realizada na Casa do Saber, da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), entre os dias 10 e 13 de junho.
Com organização do Programa Rio Negro, do Instituto Socioambiental (ISA) e apoio do Banco Mundial, o evento contou com 42 lideranças de cerca de 15 etnias do Rio Negro, como Baré, Baniwa, Desana, Tariana, Tuyuka, Tukano, Piratapuia, Koripako e Wanano. Os participantes debateram e refletiram sobre aspectos da ciência do clima, das políticas, leis internacionais e nacionais implementadas sobre o assunto, como a regulamentação do mercado de carbono, com a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).
A governança climática global e seus impactos nos territórios indígenas e nas políticas públicas existentes, como a Política Nacional de Gestão Territorial em Territórios Indígenas (PNGATI), é tema fundamental para as lideranças indígenas rionegrinas que habitam uma região com 23 milhões de hectares de floresta amazônica preservada, com 12 Terras Indígenas, na área de abrangência da governança territorial da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).
A oficina contou com a presença da advogada especialista em Direito Socioambiental, Fernanda Rotta, da Rotta e Moro Sociedade de Advogados, para introduzir os aspectos jurídicos das políticas do clima, como a recém sancionada Lei 15.042 (Lei do Carbono), mecanismos de REDD + e REDD+ Jurisdicional - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal -, assim como os direitos dos indígenas como titulares dos créditos de carbono em seus territórios.
A importância das salvaguardas socioambientais (salvaguardas de Cancún) e da aplicação dos Protocolos de Consulta para consulta livre, prévia e informada (CLPI) junto às comunidades em casos de desenvolvimento de projetos também foi trabalhada no Ciclo pelos participantes, que contaram com um encontro entre advogados (indígena e não indígena) para refletir sobre temas ligados à autonomia indígena, autodeterminação e soberania em seus territórios e modos de vida, com a participação do advogado Adriano Oliveira, do povo Tukano.
A equipe do Programa Rio Negro do ISA também conduziu apresentações sobre os efeitos dos Gases do Efeito Estufa (GEE), sobre o Ciclo do Carbono e a interferência antropogênica no equilíbrio climático da Terra, assim como tópicos relacionacionados às negociações no âmbito da UNFCCC (Convenção do Clima da ONU), sua criação na Eco 92 e principais desafios e conquistas, como o Acordo de Paris. Pontos de atenção sobre violações de direitos, fraudes e a chamada maquiagem verde também foram abordados, assim como a necessidade de se valorizar os princípios éticos estabelecidos nas negociações climáticas globais, como os estabelecidos pela Unesco, em 2017.
Durante quatro dias, os diálogos interculturais contaram também com apresentações dos Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (Aimas) e dos conhecedores indígenas, assim chamados os guardiões dos saberes ancestrais da cosmovisão indígena, entre eles Arlindo Maia Tukano e Januário Bastos Alves Tuyuka, ambos da Terra Indígena Alto Rio Negro, moradores dos Rios Uaupés e Tiquié. O papel dos Aimas, que formam uma rede de pesquisadores indígenas na Bacia do Rio Negro, foi ressaltado pelos participantes do Ciclo de Estudos como de fundamental importância para o presente e futuro da Amazônia em tempos de mudanças climáticas.
A próxima oficina presencial do Ciclo de Estudos Interculturais em Políticas Climáticas no Rio Negro ocorrerá entre os dias 15 e 18 de julho, na Casa do Saber, na sede da Foirn, em São Gabriel da Cachoeira, com o objetivo de aprofundar o tema de pagamento por serviços ambientais, serviços ecossistêmicos e estratégias indígenas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, além da articulação dos povos indígenas do Rio Negro para a COP 30, em Belém, considerando aspectos ligados à gênero, raça e direitos da juventude.
Chega de destruição
Adolescentes indígenas e não indígenas, estudantes do Colégio Estadual São Gabriel, localizado no centro do município, apresentaram para os participantes do Ciclo de Estudos, trabalhos feitos em sala de aula sobre o aquecimento global, suas causas, consequências e ações possíveis para enfrentar o problema. Preocupados com o futuro que terão em um planeta mais quente, os alunos amazonenses demonstraram seu engajamento e compromisso com o meio ambiente, levantando a necessidade de cuidar urgentemente das florestas, dos rios e melhorar as condições de vida nas cidades amazônicas.
“Chega de destruição e de lixo nos nossos igarapés. A gente tem que respeitar a natureza e não maltratar quem nos dá a vida”, disse uma aluna na apresentação.
O intercâmbio entre o Ciclo de Estudos Interculturais em Políticas Climáticas com os alunos adolescentes do colégio São Gabriel continuará na segunda oficina, com acompanhamento do professor de Ciências, Benedito Melgueiro Ribeiro, do povo Baré.
Ficha técnica do Ciclo de Estudos Interculturais em Políticas Climáticas do Rio Negro | Oficina de 10 a 13 de junho:
Organização: Juliana Radler
Produção: Michelle Machado Tukano, Juliana Radler e Wizer Oliveira Baré
Conselho Intercultural e articulação com rede de Aimas: Arlindo Maia Tukano, Aloisio Cabalzar e Danilo Bruxellas Parra
Assessoria Jurídica: Fernanda Rotta (Rotta e Moro Sociedade de Advogados) e Adriano Oliveira Tukano
Assessoria técnica em Gestão e Cadeias Produtivas: Ana Letícia Pastore
Mediação: Michelle Machado Tukano e Juliana Radler
Logística: Antônio Gabriel Silva, Claudino Amorim e Wizer Almeida Baré
Alimentação: Rosemira Lizardo, Marlene Albino e Valéria Guerra
Apoio na articulação com comunidades: Adelina Sampaio Desana
Elaboração de conteúdos para a oficina (slides, apostila e materiais de apoio): Ana Letícia Pastore, Aloisio Cabalzar, Arlindo Maia Tukano, Fernanda Rotta e Juliana Radler
Relatoria do evento e gravação em áudio dos conteúdos: Inês Mexia
Participantes:
Diretoria da Foirn: Dario Casimiro Baniwa (presidente), Hélio Gessém Monteiro Lopes Tukano, Carlos Neri Piratapuia e Edison Cordeiro Gomes Baré.
Lideranças das Coordenadorias: Coordenadoria das Associações Indígenas do Baixo e Médio Rio Negro (Caimbrn): Adilson da Silva Joanico, Lilian Gabriela Caldas de Assis Koripako e Pedro Vaz Pena; - Coordenadoria das Associações Indígenas do Balaio, Xié e Alto Rio Negro (Caibarnx): Adelina de Assis Sampaio Veloso, José Baltazar, Edmundo Gomes Alemão e Lucilene Veloso; Coordenadoria das Associações Indígenas do Distrito de Iauaretê (Coidi): Gustavo Cordeiro Trindade, Miriam Sirlene Marques Dias e Grazielly Prado Rodrigues, Almerinda Ramos de Lima; Coordenadoria Diawii (rios Uaupés e Tiquié): Francicleno dos Santos Brandão, Anunciata Rezende Marques e Maria Suzana Menezes Miguel e Coordenadoria Nadzoeri (rios Içana e Ayari): Ronaldo Apolinário, Francinaldo Farias, Walter Lopes da Silva e Bonifácio José
Rede de Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs): Milena Joaquim, Araújo Lourenço Amâncio, Edécio Marques Meira, Ezequias da Costa Pereira, Milton Sanches Velasque, Damião Barbosa, Ismael Pimentel dos Santos (Piaba) e Roberval Pedrosa.
Comunicadores da Rede Wayuri: Claudia Ferraz Wanano e João Paulo Piratapuia.
Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (Dmirn): Cleocimara Gomes Piratapuia
Departamento de Adolescentes e Jovens do Rio Negro (Dajirn): Jucimery Garcia Tariano
Assessoria Jurídica da Foirn: Adriano Oliveira Tukano
Conhecedores indígenas: Arlindo Maia Tukano, Januário Bastos Alves Tuyuka e Raimundo Rezende Tuyuka
Equipe do ISA: Andréia Damasceno, Aloisio Cabalzar, Ana Letícia Pastore, Dulce Morais, Danilo Bruxellas Parra, Juliana Radler e Petra Caldas
Convidada da Academia: Juliana Lins Góes de Carvalho, doutoranda da Universidade Radboud, Holanda
Rotta Moro Advogados: Fernanda Rotta
Instituições convidadas - FUNAI - CR Rio Negro: Maria do Rosário Martins (Dadá Baniwa) e Denivaldo Cruz da Silva, ICMBIO (São Gabriel da Cachoeira): Maria Janete Pena Ramos; Tribunal de Justiça do Amazonas (São Gabriel da Cachoeira) - juiz Manoel Átila Araripe Autran Nunes.
Notícias e reportagens relacionadas
Elas que lutam! Liderança premiada por documentário sobre agrotóxicos investe em formação internacional para defender direitos e territórios
A jovem liderança Lewaiki Suyá, do povo Khisêtjê, carrega um sonho e uma responsabilidade que andam juntos: fortalecer a luta pela proteção do território de seu povo para que suas filhas, Mawirá, de 11 anos, e Yambakhrety, de oito, assim como as futuras gerações, possam viver em paz na terra ancestral dos Khisêtjê, mantendo viva sua cultura e identidade.
“O grande sonho que eu tenho é de que um dia o meu povo possa viver em paz. Sem ameaças, sem se preocupar com o que pode acontecer amanhã. Todo dia a gente acorda pensando nisso, de que a qualquer momento a gente pode perder o nosso território, de que a gente pode não estar praticando a nossa cultura, nossas festas. Então esse é o meu medo. E o meu sonho é ter esse território para as futuras gerações”, afirma.
De família de lideranças indígenas, Lew – como é chamada pelos mais próximos – é diretora executiva da Associação Indígena Khisêtjê (AIK) e está celebrando uma conquista que fortalece sua luta e seu sonho: foi selecionada como bolsista do Programa para Representantes Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), após ser indicada pela diretoria da associação para concorrer à vaga.
Leia também
Da roça à sala de aula: povos do Xingu querem escolas que preservem cultura e alimentação tradicional
“Eu fico muito feliz, porque não é uma conquista só minha, mas do povo Khisêtjê. Fico feliz em estar representando o meu povo. Desde pequena eu ouço o nome ONU. Mas eu nunca imaginava estar participando nesse espaço, que é tão importante”, diz.
Inicialmente, as atividades aconteceram em Brasília. Em seguida, Lewaiki seguiu para Genebra, na Suíça, onde fica até julho. É a primeira vez que ela deixa o país. Ela vive na aldeia Khikatxi, no Território Indígena Wawi, anexo ao Território Indígena do Xingu, no Mato Grosso, e sempre morou com seus pais.
A luta de Lewaiki começa neste território: antes, ela vivia com sua família na aldeia ancestral Ngojhwere, um lugar de memória, reconquista e história do contato com os não indígenas. Mas o avanço do agronegócio e a pulverização dos agrotóxicos expulsaram seu povo desse território. E eles passaram a viver na aldeia Khikatxi.
É nesse cenário que nasceu o filme “Sukande Kasáká | Terra Doente”, narrado por Lewaiki e pelo cineasta indígena Kamikia Khisêtjê. O filme - lançado este ano e premiado em festivais como É Tudo Verdade e Ecofalante - denuncia o avanço silencioso dos agrotóxicos sobre os corpos e os rios.
“É uma ferramenta de luta contra a ameaça invisível”, define ela. “Quando a gente é liderança, a gente sabe dos perigos que pode correr. Mas a gente tem que proteger o nosso povo. Sempre coloca isso em primeiro lugar. E é isso que o meu avô, o cacique Kuiussi, nos ensina”, conta.
Leia também
Curta-metragem indígena vence Festival É Tudo Verdade com denúncia sobre agrotóxicos no Xingu
Lewaiki vê na comunicação e na formação política instrumentos de resistência. Inspirada pelo trabalho de Kamikia, que levou a voz do povo Khisêtjê para além da aldeia, e no exemplo de seus avós, ela se tornou porta-voz de seu povo.
Para além de liderança, Lewaiki mantém no seu dia a dia na aldeia as atividades tradicionais. Cozinha, faz beiju, cuida da roça e tece cestos. “A gente não vive só de escritório. A gente precisa da valorização da nossa cultura. É ela que nos fortalece.”
Nas reuniões e decisões comunitárias, Lewaiki representa também a força dos jovens e das mulheres: guardiãs dos saberes, cuidadoras do bem viver, estão cada vez mais presentes nos espaços de decisão ao lado dos homens.
Formação na ONU
Agora, com a bolsa da ONU, prepara-se para aprender mais sobre direitos indígenas e mecanismos internacionais de proteção. “É um desafio estar nesses lugares, ocupar esses espaços. Você sendo uma liderança, uma mãe, ter que se ausentar para buscar conhecimento para defender o seu povo. Mas a gente resiste há centenas de anos. E a gente continua resistindo.”
Ela quer estar na ONU para aprender, voltar e multiplicar o conhecimento.“Eu quero me dedicar ao máximo para poder aprender, porque esse é um dos objetivos do programa: a liderança indígena aprende e passa a ser uma multiplicadora dentro do seu povo. E é isso que eu quero fazer com os jovens, que são o futuro do povo e precisam estar alinhados com os mais velhos. Os nossos anciãos vão orientar sobre o caminho a seguir. E a gente sempre tem que manter esse vínculo com essa raiz, com o nosso povo. Porque se a gente se desvincular disso, a gente erra o caminho”, reflete a jovem liderança.
O programa do qual Lewaiki participa está vinculado à Seção de Povos Indígenas e Minorias do Escritório do Alto Comissionado das Nações Unidas para Direitos Humanos (OACNUDH), em Genebra, e busca promover as condições de desenvolvimento econômico e social.
De acordo com a ONU, o objetivo é que os bolsistas conheçam o sistema e mecanismos das Nações Unidas, principalmente sobre questões indígenas, para que possam melhor ajudar a proteger e promover os direitos dos povos indígenas, além de compartilhar o conhecimento adquirido.
Em junho, ela deu início à viagem para participar do programa da ONU em Brasília e, logo após, seguiu para Genebra, para continuar com o seu sonho de fortalecer seu povo e seu território.
Lewaiki carrega em seu nome também a história de um sonho. Pela tradição Khisêtjê, os nomes começam com “Ngay”, “Pyi” ou “Koko”. Seu nome é único. Ela foi chamada de Lewaiki após seu tio Tony Suyá sonhar, em contato com o mundo espiritual, com esse nome, que é de uma planta. E ela segue semeando esperanças, seja no Khikatxi, em Brasília ou em Genebra.
Notícias e reportagens relacionadas
Genis, como era conhecido, foi um dos pioneiros no uso de tecnologias e sistemas de informação geográfica e deixa um legado de compromisso com os direitos territoriais dos povos do extremo norte do país
É com profundo pesar que recebemos a triste notícia do falecimento de Genisvan Melquior André, do povo Macuxi.
Genis, como era conhecido entre os amigos, nasceu em Maturuca, na região das Serras, na TI Raposa Serra do Sol, e foi um dos pioneiros no uso de tecnologias e sistemas de informação geográfica para o monitoramento e proteção de Terras Indígenas em Roraima. Atuou por 15 anos no Departamento de Gestão Territorial, Ambiental e Mudanças Climáticas do Conselho Indígenas de Roraima (CIR).
Nós do ISA, tivemos a honra de contar com a sua colaboração como estagiário, enquanto cursava a graduação em Gestão Territorial na UFRR. Neste período, Genis contribuiu de maneira fundamental para a construção do banco de dados geográficos das áreas protegidas da bacia do Rio Negro, base utilizada até os dias atuais na defesa dos direitos territoriais e difusos dos povos do extremo norte do Brasil.
Além das habilidades nas ferramentas de geoprocessamento, Genis foi tecladista do lendário grupo “Caxiri na Cuia”, banda de forró Macuxi, cujas canções ecoarão por muito tempo nas malocas e casas do nosso estado.
É com o coração partido, portanto, que gostaríamos de deixar as nossas homenagens a esta pessoa extraordinária, que tanto contribuiu para a luta em defesa dos povos indígenas. Nossas profundas condolências a família e amigos de nosso querido guerreiro.
Notícias e reportagens relacionadas
Filme une imagens históricas e depoimentos de figuras-chave da luta pela garantia de direitos dos povos indígenas no Brasil
O documentário ‘Mapear Mundos’, dirigido por Mariana Lacerda, com Fany Ricardo e Beto Ricardo, está disponível de forma gratuita no canal do Youtube do Instituto Socioambiental (ISA).
O longa-metragem articula imagens e vídeos do arquivo histórico do ISA com testemunhos atuais para rememorar os passos dados por organizações da sociedade civil na luta pela garantia dos direitos indígenas no Brasil, no contexto da ditadura cívico-militar, apoiando as condições para a articulação do “capítulo dos índios” na Constituição Brasileira de 1988.
Mariana Lacerda, captou as imagens, histórias e depoimentos entre 2022 e 2023, em São Paulo e São Gabriel da Cachoeira (AM), nas comunidades Duraka, Tukano, Waurá e Dâw. A produção também conta com imagens de arquivos indigenistas do ISA e se funde com a vida e trajetória de Beto e Fany Ricardo, fundadores da organização que completou 30 anos em 2024.
Leia também
"Uma Enciclopédia nos Trópicos" navega pelas memórias do socioambientalismo no Brasil
O documentário passou pelo mais importante evento sul-americano para a produção audiovisual ligada às temáticas socioambientais, a Mostra Ecofalante de Cinema, em São Paulo, em Brasília e em Belém do Pará. Mais recentemente, Mapear Mundos foi exibido na TV Cultura, em sua estreia em TV aberta.
Assista ao filme completo abaixo!
Mapear Mundos, documentário, 72'
Sinopse: A pesquisa-movimento que localizou as populações indígenas no território Brasileiro, fornecendo as condições para a articulação do "capítulo dos índios" na Constituição Brasileira e as demarcações das Terras Indígenas. Um filme que articula imagens de arquivos indigenistas com testemunhos atuais para rememorar os passos dados por organizações da sociedade civil, em um contexto de ditadura militar, pela garantia de direitos dos povos originários no Brasil.
Realização: Instituto Socioambiental, em comemoração aos seus 30 anos.
Produção: Bebinho Salgado 455
Com Marta Azevedo, Marcio Santilli, Márcio Meira e Eduardo Viveiros de Castro
Com André Baniwa, Bráz França (Povo Baré, in memoriam) e Dagoberto Azevedo (Povo Tukano, in memoriam)
Filmado entre 2022 e 2023, em São Paulo, São Gabriel da Cachoeira (AM), Comunidade Duraka, povo Tukano e Comunidade Waruá, povo Dâw.
Argumento: Beto Ricardo e Fany Ricardo, com Mariana Lacerda
Direção: Mariana Lacerda
Roteiro: Mariana Lacerda e Paula Mercedes
Produção Executiva: Mylena Mandolesi
Pesquisa e produção: Silvia Futada, Camila Gauditano, Claudio Tavares e equipe Instituto Socioambiental
Montagem: Paula Mercedes
Trilha sonora original: O Grivo
Notícias e reportagens relacionadas
Encontro entre comunidades do Brasil e da Colômbia pactua diretrizes para preservação do peixe e do caraná, com base em conhecimentos ancestrais e práticas de cuidado com o território
A Canoita, encontro de troca de conhecimentos, comunicação e monitoramento territorial, mobiliza comunidades indígenas da região do rio Tiquié — entre Brasil e Colômbia — desde o início dos anos 2000. Realizada entre os dias 5 e 8 de maio, a edição de 2025 reuniu cerca de 120 participantes em São Pedro (ou Mopoea), do lado brasileiro do rio, para aprofundar os debates iniciados no ano anterior, em Bellavista de Abyú, na Colômbia.
O foco do encontro foi a pactuação coletiva de novos acordos de manejo do peixe — recurso central e cada vez mais escasso — e do caraná, palmeira usada para cobrir as malocas, onde saberes e práticas ancestrais para o manejo do mundo são abrigados e transmitidos entre gerações.
Os acordos fazem parte de um plano traçado na Canoita do ano passado, onde estão previstas ações focadas em conhecimentos ancestrais e manejo ambiental, direitos das mulheres, gestão do lixo e comunicação. À frente dessa articulação estão a ATRIART (Associação das Tribos Indígenas do Alto Rio Tiquié) e o COITERTI (Consejo Indígena del Territorio del río Tiquié), com apoio do ISA (Instituto Socioambiental) e da Fundación Gaia Amazonas.
Leia também
Reencontro Canoita: indígenas do Brasil e da Colômbia discutem plano de manejo integrado
Como preparação e consulta às comunidades sobre os acordos, uma oficina em novembro de 2024 em Cachoeira Comprida, do lado brasileiro do Rio Tiquié, elaborou temas e propostas sobre formas de manejo da piracema, dos lugares sagrados, do uso timbó, do lixo e das artes e técnicas de pesca.
Mediada pelas lideranças tuyuka José Ramos, de São Pedro, e Jorge Lima, de Bellavista de Abyú, a Canoita contou com momentos de contextualização e histórico da iniciativa, grupos de trabalho organizados por trechos de rio e associações, plenárias e debates feitos sobretudo em Tuyuka e Tukano com traduções resumidas em português e espanhol.
Embora o foco principal tenha sido a pactuação e compromisso com os acordos de manejo ambiental de peixes e caraná, a troca de experiências foi um dos marcos do encontro. Pelo lado brasileiro, foram rememoradas as iniciativas realizadas pelos agentes indígenas de manejo ambiental (AIMAs), escolas e movimento indígena viabilizadas principalmente por meio de projetos socioambientais nos últimos 20 anos.
Já do lado colombiano, ganharam destaque as experiências das AATIs (Associações de Autoridades Tradicionais Indígenas), que atuam como formas próprias e autônomas de governo, além das iniciativas voltadas à valorização e articulação dos sistemas tradicionais de conhecimento.
Resumidamente, os acordos definem os locais onde deve se restringir ou proibir a pesca sistematizados em um mapa[MOU1]. Também, indicam práticas de conhecimento indígena que devem ser procuradas, orientam como respeitar a piracema, como utilizar o timbó e quais são as formas que técnicas não tradicionais, como malhadeiras, devem ser empregadas para que não sejam predatórias nem agravem a escassez de peixe em uma região com poucos peixes.
Em relação ao caraná, cujas folhas são tradicionalmente utilizadas como cobertura das casas e das malocas, os acordos estabelecem formas de uso que garantam a regeneração dessa palmeira e respeitem o manejo tradicional realizado pelas gerações anteriores. Outro ponto abordado foi o compromisso com a construção de estratégias para lidar com os resíduos sólidos, como pilhas, baterias e plásticos, que têm se tornado presença crescente nos territórios.
As pilhas e baterias ganharam destaque nas discussões. Conforme aumenta o consumo de eletrônicos e a conscientização em relação ao descarte adequado desse tipo de resíduo, aumenta também seu acúmulo em tambores e carotes, o que tem criado um enorme desafio legal e logístico nas terras indígenas do Rio Negro. De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, fabricantes de pilhas e baterias deveriam ser “... obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa…” (Lei 12.305 Art 33) , o que ainda não acontece no Alto Rio Negro.
Para que os acordos não se tornem apenas mais um documento entre tantos, os participantes ressaltaram a importância de sua implementação cotidiana, enraizada nas práticas vividas e compartilhadas pelas comunidades, famílias e escolas.
Com ampla experiência de mobilização, interlocução com burocracias não indígenas e construção de instrumentos próprios de planejamento — como os Planos de Vida, na Colômbia, e os Planos de Gestão Territorial e Ambiental, no Brasil —, as comunidades de ambos os lados da fronteira destacaram que a efetividade dos acordos depende da valorização contínua das boas práticas de manejo tradicional e do envolvimento direto das pessoas que habitam e cuidam do território.
Afinal, não se trata de realizar uma vigilância e punição ativa de quem não respeitar os acordos. Conforme colocado, sob forma de provocação bem humorada da liderança Raimundo Tenório, ninguém vai querer ser o vigia do rio enquanto a comunidade está em festa. Mas, as comunidades indicarão pessoas de referência que registrarão os pontos que serão avaliados periodicamente pelas comunidades e organizações indígenas e parceiras.
Seguindo a rota traçada com a retomada das Canoitas no ano passado, dois novos encontros já estão previstos para o segundo semestre de 2025. Com diretrizes temáticas definidas, serão protagonizados por coletivos de mulheres e conhecedores tradicionais das comunidades do Tiquié, e terão como foco os direitos e os papéis das mulheres, além da proteção dos sítios sagrados. Assim continua a jornada da peri yokosorogã — a pequena canoa, em tuyuka — navegando por essas águas e paisagens cuidadas, há milênios, por quem delas faz morada e conhecimento.
*Esta reportagem foi produzida com apoio da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD)
Carregando