Lançado em 2024, livro destaca o legado de Beto Ricardo, fundador do ISA, e reúne memórias e documentos sobre a defesa dos direitos dos povos indígenas no Brasil

O livro Uma Enciclopédia nos Trópicos: memórias de um socioambientalista, de um dos fundadores do Instituto Socioambiental (ISA), o antropólogo Beto Ricardo, e do escritor e jornalista Ricardo Arnt, foi o vencedor do Prêmio Jabuti Acadêmico 2025 na categoria Antropologia, Sociologia, Demografia, Ciência Política e Relações Internacionais.
A cerimônia de premiação aconteceu nesta terça-feira (05/08), no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, e reuniu autores, editoras e representantes de instituições acadêmicas de todo o país. Carolina Ricardo, filha de Beto Ricardo, recebeu o prêmio ao lado de Ricardo Arnt e Ricardo Teperman, publisher da Zahar, selo do Grupo Companhia das Letras responsável pela publicação da obra.
Lançado em 2024 e organizado por Jurandir Craveiro, ex-presidente do ISA, o livro reúne reflexões, relatos e documentos essenciais da trajetória de Beto Ricardo e da organização. Jurandir destaca que relembrar histórias, orientar pesquisas e selecionar fotos e mapas não foi uma tarefa fácil para Beto, que enfrenta há alguns anos o Mal de Parkinson.

“Em 2021, ele pressentiu que, em algum momento, talvez não estivesse mais apto a levar adiante o projeto. Com os pés no chão e determinação, não hesitou em me pedir ajuda. Durante quase três anos, com o apoio da família, cuidadoras, amigos e companheiros do ISA, estive junto do Beto para que conseguisse nos contar a histórias da sua vida e suas lutas. Não sem sacrifício, com amor e paciência, ele concluiu a obra, deixando um legado inspirador”, afirmou.
O livro resgata momentos-chave da criação e consolidação do campo socioambiental no Brasil, revelando bastidores do movimento indigenista e destacando contribuições de figuras como Darcy e Berta Ribeiro, Davi Kopenawa, Lula, Marina Silva, Milton Nascimento e Gilberto Gil, entre outros.
Veja imagens históricas de Beto Ricardo que constam no livro:

Um dos marcos narrados é a criação do programa Povos Indígenas no Brasil, herança que o ISA recebeu do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) e que reunia, sistematizava e divulgava informações cruciais sobre os povos indígenas em um período em que o Estado brasileiro insistia em negar sua existência. O programa criou à Enciclopédia “Pibão”, como ficou conhecida a base de dados pioneira, referência nacional e internacional e alicerce fundamental para o trabalho do ISA.
Com prefácio do escritor e ativista indígena Ailton Krenak e posfácio do jornalista Leão Serva, o livro encerra com o capítulo “O céu que nos protege”, onde Beto alerta para os efeitos da crise climática no Brasil. O texto enfatiza a urgência do protagonismo dos povos tradicionais e a valorização da sociobiodiversidade para a preservação da vida no planeta.
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Veja como foi a cerimônia:
Sobre os autores
CARLOS ALBERTO (“BETO”) RICARDO é antropólogo e ativista desde a resistência à ditadura militar no Brasil. Foi um dos fundadores do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), criou e editou a série Povos Indígenas no Brasil junto com Fany Ricardo, recebeu o prêmio Goldman de Meio Ambiente de 1992 e fundou diversas organizações, como o Instituto Socioambiental (ISA), o Instituto Atá e a Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg).
RICARDO ARNT é jornalista e escritor. Foi editor da Folha de S. Paulo, do Jornal do Brasil, do Jornal Nacional da TV Globo, da TV Bandeirantes e das revistas Exame, Superinteressante e Planeta. É autor de vários livros, entre os quais O que é política nuclear (1983); Um artifício orgânico: Transição na Amazônia e ambientalismo (1992); Jânio Quadros: O Prometeu de Vila Maria (2004); e O que os economistas pensam sobre sustentabilidade (2010).