Livro da Rede de Sementes do Vale do Ribeira compartilha conhecimentos tradicionais quilombolas; baixe a publicação gratuitamente
A Rede de Sementes do Vale do Ribeira e o Instituto Socioambiental (ISA) lançaram no dia 24/04, em evento no Sesc Registro, o livro Do Quilombo à Floresta: guia de plantas da Mata Atlântica no Vale do Ribeira.
A atividade reuniu coletores de sementes e técnicos do ISA em uma mesa de debates sobre restauração florestal. O Sesc Registro fica no município de Registro (SP), no Vale do Ribeira.
Organizado por Bianca Cruz Magdalena, pesquisadora em etnobotânica e mestranda em antropologia, a obra contém informações técnicas e relatos histórico-culturais quilombolas sobre os conhecimentos da plantas nativas da região.
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O objetivo da publicação é apoiar o trabalho de coletores e coletoras da Rede de Sementes do Vale do Ribeira e traçar estratégias de defesa da Mata Atlântica, além de valorizar os conhecimentos de convivência com o bioma.
A coletora quilombola Maria Tereza Vieira, do Quilombo Nhunguara, esteve na mesa de lançamento do guia no Sesc Registro e fez uma síntese do que ele representa para a proteção da Mata Atlântica e como os saberes tradicionais convivem com a sabedoria de viver com a floresta em pé.
“Nós temos como viver com a mata em pé e é isso que nós queremos. O povo quilombola sabe muito bem como fazer isso, temos muitas sabedorias e com esse guia queremos que todos entendam isso: como saber respeitar cada espécie”.
O livro nasceu da necessidade de registrar a experiência prática do manejo da paisagem, além de capacitar futuros coletores. Desde 2017, os integrantes da Rede de Sementes do Vale do Ribeira, juntamente com moradores dos quilombos André Lopes, Bombas, Maria Rosa, Nhunguara e São Pedro, estão fazendo a diferença na preservação da Mata Atlântica.
As comunidades tradicionais quilombolas que fazem parte da Rede têm coletado sementes de espécies nativas, que são destinadas à restauração ecológica de áreas degradadas. Atualmente, a Rede conta com 60 coletores e em 2022, foram mais de duas toneladas de sementes de 98 espécies florestais, gerando uma receita de 242 mil reais em comercialização.
O guia faz a catalogação de 52 espécies vegetais da Mata Atlântica, com informações sobre as formas de coleta, beneficiamento, armazenamento e plantio das sementes florestais e os usos associados nos quilombos do Vale do Ribeira.
Para João da Mota, do Quilombo Nhunguara e coletor da Rede de Sementes do Vale do Ribeira, o lançamento do guia é um marco que registra a relação dos quilombolas com a manutenção da floresta viva e a convivência com a Mata Atlântica, conhecimento ancestral que é transferido por gerações.
“Para mim é um dia muito importante no lançamento do livro porque é um conhecimento que a gente não aprendeu em nenhuma faculdade, que nenhuma faculdade ensina, mas só aqueles que recebem o conhecimento de pai pra filho. Então, esse guia ajuda, né? Tanto na parte do que a gente pode retirar de cada árvore para poder nos beneficiar, mas também a maneira que ela continue ... A floresta viva, a floresta em pé”, enfatizou João da Mota.
A publicação também destaca a importância do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola (SATQ), reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de ser um excelente guia para conhecer e se aproximar das espécies vegetais nativas da Mata Atlântica.
O bioma tem poucas áreas contínuas conservadas. Atualmente, a Mata Atlântica está reduzida a 7% de sua área original, ou a aproximadamente 100 mil quilômetros quadrados. Desse total, 23% se situam no Vale do Ribeira.
Segundo Juliano Silva do Nascimento, um dos autores do livro e engenheiro agrônomo do ISA, a publicação terá um uso prático e irá auxiliar os futuros coletores.
“O livro registra o conhecimento praticado pela Rede de sementes no manejo das sementes, mas também registra o conhecimento de uso por essas comunidades quilombolas que praticam o manejo da mata há séculos, valorizando esse conhecimento e garantindo o repasse do conhecimento aos demais coletores, jovens e outras comunidades”, disse.
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