Manchetes Socioambientais
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“O encontro entre índios e brancos só se pode fazer nos termos de uma necessária aliança entre parceiros igualmente diferentes, de modo a podermos, juntos, deslocar o desequilíbrio perpétuo do mundo um pouco mais para frente, adiando assim o seu fim.”
Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo, um dos fundadores do ISA
O tema "Povos Indígenas" está na origem da existência do Instituto Socioambiental. Lá se vão pelo menos quatro décadas de comprometimento e trabalho com o tema, produzindo informações para a sociedade brasileira conhecer melhor seus povos originários. Desde sua fundação, em 1994, o ISA dá continuidade ao trabalho do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), que havia sido iniciado em 1980 e que, por sua vez, remonta ao começo dos anos 1970, quando o então governo da ditadura militar lançava o Plano de Integração Nacional, com forte componente de obras de infraestrutura na Amazônia, região que era então descrita pelo discurso oficial como um "vazio demográfico".
Por meio dos relatos coletados, dados produzidos e pesquisas empreendidas por uma rede de colaboradores espalhada pelas diversas regiões do País, o Cedi ajudou a derrubar essa tese. Ao dar publicidade às informações levantadas por essa rede social do tempo do telex, o Cedi colocou, definitivamente, os povos indígenas e suas terras no mapa do Brasil. Seus integrantes ainda participaram ativamente no movimento de inclusão dos direitos indígenas na Constituição de 1988 e, juntamente com integrantes do Núcleo de Direitos Indígenas (NDI) e ativistas ambientais, fundaram o ISA em 1994.
De lá para cá, ampliando sua rede de colaboradores em todo o País, o ISA se consolidou como referência nacional e internacional na produção, análise e difusão de informações qualificadas sobre os povos indígenas no Brasil. O site "Povos Indígenas no Brasil", lançado em 1997, é a maior enciclopédia publicada sobre as etnias indígenas no Brasil, com suas línguas, modos de vida, expressões artísticas etc. O site é uma das principais referências sobre o tema para pesquisadores, jornalistas, estudantes e acadêmicos.
A atuação hoje é transversal aos territórios onde atuamos, especialmente na Bacia do Xingu, no Mato Grosso e Pará, e Bacia do Rio Negro, no Amazonas e Roraima, e também envolve povos indígenas de todo o Brasil, por meio da atualização permanente do site e de seus mais de 200 verbetes, inclusão de novos textos sobre etnias emergentes e indígenas recém-contatados, além do monitoramento e cobertura jornalística sobre situações de violência e perda de direitos contra estas populações. O tema "Povos Indígenas" ainda é tratado no site "PIB Mirim", voltado ao público infanto juvenil e de educadores.
O monitoramento de Terras Indígenas também é um eixo central do nosso trabalho com o tema, e remonta à sistematização de dados e divulgação de informações iniciada pelo Cedi em 1986, e se dá por meio da produção de livros impressos e mapas temáticos sobre pressões e ameaças, como desmatamento, mineração, garimpo, obras de infraestrutura, entre outras, além do site "Terras Indígenas no Brasil".
Confira os conteúdos produzidos sobre este tema:
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Em formato de enciclopédia, é considerado a principal referência sobre o tema no país e no mundo |
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A mais completa fonte de informações sobre o tema no país |
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Site especial voltado ao público infanto-juvenil e de educadores |
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Painel de indicadores de consolidação territorial para as Terras Indígenas |
Até o momento não há vestígios de indigenista e jornalista desaparecidos na região da cidade de Atalaia do Norte (AM). Sociedade civil cobra mais empenho do governo nas buscas
O jornalista britânico Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian no Brasil, e o indigenista Bruno Araújo Pereira, servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), estão desaparecidos, desde domingo (5), na região do município de Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas. Segundo a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), a última informação do paradeiro deles foi da comunidade São Gabriel, rio abaixo da comunidade São Rafael.
A dupla estava em campo para visitar a equipe de vigilância da Univaja na localidade Lago do Jaburu, a 15 minutos de São Rafael. O lago também está nas proximidades da Base de Vigilância da Funai no Rio Ituí, uma das quatro existentes na Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do país, com 8,5 milhões de hectares. A região é alvo de conflitos e invasões provocados por madeireiros, garimpeiros, pescadores ilegais e pelo narcotráfico internacional.
Após pressão da Embaixada da Inglaterra e a comoção que tomou parte das redes sociais, a Marinha e a Polícia Federal iniciaram timidamente, na tarde da segunda-feira (6), as buscas, mas sem nenhum resultado concreto até agora. Apesar do governo federal ter divulgado uma nota, o presidente Jair Bolsonaro banalizou o caso, como em diversas outras situações, sugerindo tratar-se de uma “aventura não-recomendável”, como divulgou o canal R7.
A Univaja, o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) publicaram uma nota pública, denunciando a omissão do Estado e exigindo a rapidez nas buscas dos dois profissionais.
Confira a nota na íntegra:
A UNIVAJA (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), o Opi (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) informam que o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips seguem desaparecidos desde a manhã deste domingo (dia 05 de junho de 2022), quando viajavam em uma embarcação de pequeno porte entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, no rio Itaquaí (afluente do rio Javari), no estado do Amazonas.
Durante todo o dia de segunda-feira, 6 de junho, a equipe de vigilância da UNIVAJA continuou a estabelecer articulações e solicitar pedidos para que as instituições que operam na fronteira pudessem ampliar as buscas que a organização indígena já tinha iniciado no domingo (dia 5), realizando duas incursões na região sem obter resultado. Foram acionados o Comando de Fronteira Solimões/8° Batalhão de Infantaria de Selva (Cmdo Fron Solimões/8°BIS), a Capitania Fluvial de Tabatinga, o Departamento da Polícia Federal de Tabatinga, o 8° Batalhão da Polícia Militar e o Ministério Público Federal de Tabatinga.
Com exceção dos 06 Policiais Militares e de uma equipe da Funai, que iniciaram as buscas ainda ontem junto com a equipe da Univaja, as informações acerca do cenário das buscas revelam a omissão dos órgãos federais de proteção e segurança, assim como das Forças Armadas. Embora tenha sido instado a colaborar com um efetivo de 25 militares, o exército brasileiro até o presente momento não disponibilizou nenhum efetivo para a operação. A Polícia Federal, da mesma forma, deslocou um único delegado para Atalaia do Norte, junto com oficiais da Marinha que se deslocaram ainda ontem para Atalaia. Ressaltamos que não foi constituída uma Força-Tarefa para as operações de busca.
A Univaja e a Defensoria Pública da União - DPU recorreram à Justiça Federal (processo de número 1004249-82.2018.4.01.3200) pedindo: “a) Que a União viabilize o uso de helicópteros à Polícia Federal, sejam eles das Forças de Segurança ou das Forças Armadas, pois até o presente momento não existem helicópteros auxiliando as buscas, o que seria imprescindível; b) ampliação das equipes de buscas; c) ampliação do número de barcos”. A solicitação da UNIVAJA foi feita diante da necessidade de serem realizadas buscas tanto por meio fluvial como por meio aéreo. Ressaltamos que na região de Tabatinga se encontram efetivos e pelotões de fronteira das Forças Armadas. Até o momento, no entanto, o número de agentes disponibilizados é ínfimo diante da urgência em se encontrar o paradeiro do indigenista e do jornalista desaparecidos.
Durante todo o dia 6, as articulações da UNIVAJA tiveram apoio de parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado. A Frente Parlamentar Indígena oficiou o ministro da Justiça e Segurança Pública, a Diretoria da Polícia Federal e a Superintendência da Polícia Federal em Manaus. Os Gabinetes dos Senadores Randolfe Rodrigues (REDE) e Jaques Wagner (PT/BA), bem como o Ofício da liderança da minoria na Câmara, reiteraram as solicitações ao MJSP e Ministério da Defesa para emprego de maiores efetivos nas buscas.
Na tarde do dia 6, o Comando Militar da Amazônia (CMA) divulgou nota informando que tem condições para realizar “missão humanitária de busca salvamento” mas que as ações só “serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior”. Dadas as características de logística, infraestrutura, eficácia operativa e capacidade de intervenção imediata em ações humanitárias garantidas pela autoridade militar na Amazônia, assistimos com perplexidade à demora, hesitação e lentidão do “Escalão Superior” para implementar de forma imediata as ações de busca e salvamento. Apesar do que tem sido veiculado nos canais oficiais do Ministério da Justiça, por exemplo, e em alguns veículos de imprensa, não há força tarefa atuando na região de maneira efetiva.
Já na manhã de hoje (07/06), a Assessoria Especial de Imprensa do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) divulgou uma nota informando que o “Departamento de Polícia Federal (PF) está atuando naquela região e tomando todas as providências para localizá-los o mais rápido possível. A PF fez repetidas incursões e tem contado com o apoio da Marinha do Brasil, que se somou aos esforços nos trabalhos de buscas de ambos os cidadãos”. Tais informações divulgadas pelo Governo Brasileiro, no entanto, não são verdadeiras, considerando que na data de ontem a Marinha do Brasil ainda não havia iniciado as buscas e apenas 01 agente da Polícia Federal havia sido deslocado para a região.
A principal informação que temos até agora é a de que a Polícia Civil deteve dois dos principais suspeitos de estarem envolvidos com o desaparecimento (pescadores identificados apenas por "Churrasco" e "Jâneo") no início da noite da segunda-feira. Ambos foram levados para a cidade de Atalaia do Norte para prestar esclarecimentos. Segundo informações do movimento indígena, os dois suspeitos foram liberados depois de intervenção do poder público local de Atalaia do Norte. Há informações também de que um terceiro suspeito, conhecido por “Pelado”, está foragido na floresta, na região das comunidades ribeirinhas em questão.
Diante dessa situação desgovernada, a UNIVAJA convocou as instituições para uma Sala de Situação na manhã de hoje (7 de junho), na cidade de Atalaia do Norte-AM. No entanto, apenas o já mencionado efetivo de seis policiais militares participou da reunião.
Hoje as buscas prosseguem. As equipes formadas pela Equipe de Vigilância da UNIVAJA (EVU) e pela Polícia Militar seguem com o objetivo de encontrar tanto os desaparecidos quanto o suspeito foragido.
A região do desaparecimento condensa conflitos graves num clima de violência em que madeireiros, pescadores ilegais e o narcotráfico internacional exercem suas atividades no entorno e no interior da Terra Indígena Vale do Javari, diante da incapacidade e omissão dos órgãos responsáveis pela fiscalização e proteção dos territórios indígenas. Esse cenário exige uma intervenção organizada e bem articulada das forças de segurança pública, numa necessária interlocução e cooperação com as organizações indígenas locais, que têm assumido desde o primeiro momento a iniciativa pelas buscas e apuração dos fatos, uma vez percebido o desaparecimento de Bruno Pereira e Dom Phillips.
Ressaltem-se os trágicos precedentes ocorridos na região em 2019, quando o colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, foi brutalmente assassinado a tiros em sua residência em Tabatinga. A sensação de impunidade se consolidou diante da ausência de julgamento e punição do crime perpetrado contra Maxciel por invasores da Terra Indígena Vale do Javari. A Base de Proteção Etnoambiental Ituí, situada nas proximidades do local do desaparecimento, também foi atacada recentemente em oito episódios de violência armada contra indígenas e funcionários da Funai. Essas e outras situações vem sendo sistematicamente denunciadas às autoridades pelo movimento indígena, inclusive ao Supremo Tribunal Federal, no âmbito da ADPF nº 709, pela APIB.
Diante desse panorama, torna-se necessária de maneira urgente uma ação eficaz de apuração dos fatos e de busca imediata: cada hora que passa coloca em risco definitivo a possibilidade de sobrevivência dos dois desaparecidos, ao mesmo tempo em que faz crescer a consolidação de um território sem lei, nas mãos de criminosos confiantes nos seus plenos poderes perante a incapacidade de atuação dos representantes legítimos do Estado de direito.
Durante a jornada de ontem, circularam informações sobre as limitações das forças de segurança para obter, entre outros meios, helicópteros que dessem o necessário suporte às operações de busca, o que é imprescindível para complementar as ações fluviais e terrestres dadas as condições geográficas da região. As Forças Armadas e de segurança pública não deveriam poupar esforços para garantir direitos fundamentais colocados em xeque no atual cenário do vale do Javari.
Nesta região, avança de forma cada vez mais descontrolada a violência exercida mediante a invasão das terras indígenas e outras terras da União, a repressão contra a liberdade de imprensa e o exercício do jornalismo e a ameaça impune contra a vida e a atuação de servidores públicos engajados no cumprimento da Constituição Federal. Diante deste quadro de quebra drástica dos fundamentos da democracia, é urgente uma intervenção do Governo Brasileiro para uma efetiva busca e salvamento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.
Assistimos uma vez mais o atual Governo Brasileiro se omitir de suas responsabilidades diante da escalada de violência contra os povos indígenas e defensores de direitos humanos no Brasil. A UNIVAJA e o movimento indígenas e seus aliados, ao contrário, não estão medindo esforços, estando de forma permanente na área do ocorrido, realizando o trabalho de vigilância indígena para encontrar nossos amigos Bruno e Dom.
Atalaia do Norte, Amazonas, 07 de junho de 2022
União dos Povos Indígenas do Vale do Javari - UNIVAJA
Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato - Opi
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB
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#ElasQueLutam! Uma das lideranças de maior projeção nacional e internacional, Soninha não mede esforços para garantir direitos e amplificar as vozes e visões dos povos indígenas
Perfil publicado originalmente em 20 de abril de 2021 e atualizado em 26 de maio de 2022.
“Não podemos arredar o pé da luta pelos nossos direitos”. Em 2021, quando a pandemia de Covid-19 não permitiu que os povos indígenas se reunissem em Brasília para a maior mobilização do movimento, o Acampamento Terra Livre (ATL), pelo segundo ano consecutivo, foi assim que Sonia Guajajara, coordenadora-executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) resumiu o momento. À época, o ATL 2021 seguiu virtualmente, ocupando redes e demarcando telas.
É esse tipo de atitude que dá o tom da trajetória de Soninha, como é carinhosamente conhecida. Na última segunda-feira (23), o compromisso com os direitos dos povos indígenas e com a luta do movimento indígena lhe rendeu um lugar na lista das 100 personalidades mais influentes do ano da revista Time. “É um reconhecimento da luta indígena global, que é coletiva e defende o futuro de toda a humanidade”, ela escreveu em sua conta do Twitter após a publicação da lista.
“Eu já nasci militando”, ela contou ao jornal Brasil de Fato. “Todo tempo eu queria encontrar um jeito de contar como trazer essa história e essa vida dos povos indígenas para um conhecimento da sociedade”. Formou-se em Letras e Enfermagem e atuou por muitos anos nas duas áreas. Mas, em 2001, participou do seu primeiro encontro nacional indígena e percebeu que sua missão seria se dedicar à luta coletiva dos povos originários.
Sonia começou na Coordenação das Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), onde ajudou a dar um fôlego cada vez maior ao movimento indígena do estado. Migrou então para a vice-coordenação da Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia (Coiab) e, ao fim dos quatro anos de mandato, foi eleita para a coordenação da Apib. Hoje, ela talvez seja a liderança feminina de maior projeção nacional e internacional, e não mede esforços para garantir direitos duramente conquistados e amplificar as vozes e visões dos povos indígenas.
“Nós estamos aqui para fazer diferente e mostrar a Terra como a Mãe Terra, esse bem sagrado, que precisa de cuidado, que dá sustento e que garante a vida”, afirmou ao Instituto Escolhas. “O desafio só cresce e agora é como se a gente voltasse de novo para o início, de retomar a briga pela demarcação dos territórios, que, para nós, é a bandeira de luta maior e principal dos povos indígenas”.
Em quase duas décadas de mobilização, Sonia alçou voo, assumiu posições de destaque e ajudou a fortalecer a presença feminina no movimento indígena e em outros espaços. Atualmente, como gosta de lembrar, já vê muitas outras colegas à frente de associações indígenas e até mesmo atuando na política partidária. Nas eleições presidenciais de 2018, Sonia foi candidata a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). “Eu não tenho dúvidas de que o resultado político da minha candidatura motivou e abriu muitos caminhos para outras mulheres se candidatarem”, disse ao jornal O Globo.
“Estamos aqui demarcando o nosso território, nosso espaço de fala, nossa participação enquanto mulher guerreira. A nossa voz precisa ecoar pelo mundo”, avisou, em discurso durante a 1ª Marcha das Mulheres Indígenas. Sempre ao lado de suas companheiras, as mulheres da terra, das águas e das florestas, Soninha ajudou a fundar a ANMIGA, a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas – Guerreiras da Ancestralidade, que une os saberes, tradições e resistências das indígenas de todo o país.
“A gente não vai desistir”, salientou à agência Pública. “Não há outro jeito de a gente continuar vivo, de a gente continuar existindo, se não for por meio da luta”.
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#ElasQueLutam! Atenta à luta pelo território desde criança, a jovem indígena tornou-se advogada por acreditar no coletivo e querer contribuir com seu povo
Quando criança, Samara Pataxó queria ser professora. “Eu tinha a intenção de crescer e ser uma profissional que somasse [na luta]”, conta. Foi assim até o Ensino Médio, quando, após um período como Jovem Aprendiz no escritório da Fundação Nacional do Índio (Funai), decidiu se tornar advogada.
“Eu vi que não só a minha aldeia, mas outras, enfrentavam problemas parecidos: falta de políticas públicas, falta de demarcação. Foi aí que eu escolhi um curso que eu pudesse ajudar o meu povo”.
Mas a dedicação com a luta pelos direitos dos seus começou bem antes. Aos dez, presenciou a demarcação da Terra Indígena Coroa Vermelha (BA), em um processo incompleto que deixou de fora vários trechos de ocupação tradicional e consolidou dentro dela a importância da luta pela defesa o território. Desde cedo, observou a atuação do avô, Manuel Siriri, liderança fundamental na organização da comunidade indígena de Coroa Vermelha.
Mas é à escola básica, que frequentou dentro do território, que ela atribui sua formação para o movimento indígena.
“Meus avós, meus pais, não tiveram acesso à escola, ao ensino. Mas eu tenho a sorte de crescer em uma geração em que essa situação se tornou diferente,” comenta. “A gente tem na escola indígena o ensino da língua materna, o fortalecimento da cultura, da nossa identidade. Há todo um preparo da criança indígena para ela ser uma adulta que vai estar na luta. E essa foi a minha formação”.
Antes mesmo de se formar, Samara já participava de reuniões da comunidade, auxiliava as lideranças a elaborarem documentos e denúncias e atuava na assessoria jurídica de organizações de base. “O meu estágio foi na luta”, relata. Um contraste claro à experiência universitária, onde as questões indígenas mal eram abordadas.
“[Com] o sistema de cotas, você começa a ter indígenas, negros, quilombolas, na universidade. Porém, o tipo de ensino é o mesmo, os professores são os mesmos”, explica.
O curso universitário foi um desafio. Não só ela estava vivendo há 700 quilômetros de casa, em Salvador, mas ainda precisava se desdobrar para incluir a perspectiva do direito indígena nas discussões em classe. Mas, entendendo sua presença na universidade como uma estratégia de luta construída desde muito antes, por todos que acreditaram nela, seguiu em frente e concluiu o curso.
Outra das inspirações de Samara para cursar direito tem nome e sobrenome: Joenia Wapichana, hoje deputada federal pela Rede de Roraima, a primeira mulher indígena a eleger-se para o Congresso. À época, Joenia começava a ganhar relevância no cenário nacional por ser a primeira advogada indígena a fazer uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF), no caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR).
“Ter mulheres indígenas como referência é muito importante. Essas mulheres que acabam assumindo certos protagonismos, sendo pioneiras em determinados lugares, elas abrem caminhos para outras mulheres”, explica. “Eu recebo feedbacks diariamente de outras mulheres jovens indígenas. Assim como eu tive a Joenia como inspiração, essas meninas jovens têm a mim.”
Em 2021, Samara pôde seguir os passos da parlamentar, fazendo a primeira sustentação oral de sua vida no STF, durante o julgamento que irá definir o entendimento sobre a tese do “marco temporal” das demarcações. “Foi uma megaresponsabilidade. Como eu iria sintetizar uma defesa tão importante em cinco minutos? Quais [seriam] as minhas contribuições nesse tema?”, relembra.
Apesar do nervosismo, ela criticou o marco temporal de maneira brilhante e foi bastante elogiada nas redes sociais. “Não há como construir uma tese sobre Terras Indígenas sem considerar as vidas dos povos indígenas,” salientou em sua sustentação. “E não há como falar de vida sem a proteção de nossos territórios”.
🏹 Samara Pataxó (@PataxoSamara)
— socioambiental (@socioambiental) 2 de setembro de 2021
✅ Povo Pataxó, na Bahia
✅ Assessora jurídica da @ApibOficial
✅ Doutoranda em Direito na @unb_oficialhttps://t.co/w5SzDCfou1
O julgamento foi um dos pontos altos de uma intensa trajetória de atuação no movimento indígena. Nos últimos anos, Samara passou pelas instâncias local, regional e nacional, trabalhando no Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), na Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) e n Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Agora, continua a batalha por direitos indígenas em novas trincheiras, assessorando e implementando um núcleo de diversidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“É uma grande responsabilidade [ocupar esses espaços]. Além de trazer o peso de uma representatividade indígena, também temos que passar por um julgamento pelas pessoas que estão no sistema de Justiça, [sobre] se a gente é capaz mesmo,” finaliza.
“O que me move é valorizar aqueles que lutaram para que eu estivesse aqui, mas também saber que o que eu faço tem importância e representatividade para pessoas que querem fazer a diferença”.
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Mostra virtual de comunicadores indígenas e ribeirinhos da Rede Xingu+ navega pelas belezas e ameaças aos territórios entre Mato Grosso e Pará
A exposição Os Olhos do Xingu está disponível na plataforma Google Arts & Culture, em uma história que convida o público a mergulhar nos modos de vida dos povos xinguanos, a partir do olhar dos Comunicadores da Rede Xingu+. A ferramenta permite a visitação online das fotografias e vídeos de oito comunicadores que vivem em Terras Indígenas na Bacia do Rio Xingu, entre Pará e Mato Grosso.
A exposição é uma realização da Rede Xingu+ e do Instituto Socioambiental (ISA), e contou com apoio da Fundação Rainforest da Noruega e da União Europeia. Com curadoria de Kujaesãge Kaiabi e dos comunicadores do Xingu a exposição convida a sociedade envolvente a entrar em contato com imagens que revelam a relação intrínseca entre o bem viver e a proteção dos territórios.
Em 20 imagens, os comunicadores xinguanos apresentam seus olhares sobre as belezas e as ameaças aos modos de vida nos territórios, enfrentadas pelos povos do Corredor de Diversidade Socioambiental do Xingu diante da crise climática. As imagens apresentam, por um lado, a preocupação de indígenas e ribeirinhos com pressões e ameaças, e por outro, a felicidade expressa no relacionamento com as comunidades, seus conhecimentos e modos de vida.
Siga os @comunicadoresxingumais no Instagram!
A curadoria de fotografias apresentadas na mostra inclui registros de mobilizações em Brasília, como a 3ª Marcha Mulheres Indígenas, realizada em setembro de 2023, de retratos feitos em reuniões, rituais e manifestações culturais realizadas nos territórios, além da captura de paisagens à beira de rios e fotografias aéreas das aldeias e pressões.
Além das fotografias, a exposição se expande com a exibição imersiva de 20 vídeos-relatos, em que indígenas e ribeirinhos compartilham as histórias por trás de cada fotografia. Nos vídeos, os comunicadores apresentam as inspirações que os motivaram a produzir os registros fotográficos.
A exposição ainda conta com um mapa dos territórios dos comunicadores da Rede Xingu+ sobreposto por camadas que mostram as Terras Indígenas, Unidades de Conservação, corpos d’água e o desmatamento acumulado nos limites da Bacia do Rio Xingu, oferecendo mais uma oportunidade para o público se aprofundar nas paisagens que constituem e inspiram os comunicadores.
Sobre os comunicadores da Rede Xingu+
O grupo de Comunicadores Indígenas e Ribeirinhos do Xingu integra a Rede Xingu+, uma articulação entre organizações de povos indígenas, associações de comunidades tradicionais e instituições da sociedade civil atuantes na bacia do Rio Xingu.
Ao se apropriarem do uso de equipamentos e tecnologias sociais, os comunicadores da Rede Xingu+ assumem o protagonismo na comunicação de suas associações e contribuem com a articulação política entre diferentes povos da Bacia do Rio Xingu, com a, emissão de alertas, a prevenção e o monitoramento de atividades ilegais nas Áreas Protegidas do Xingu.
Serviço
Exposição Os Olhos do Xingu
Realização: Rede Xingu+ e Instituto Socioambiental (ISA)
Apoio: Fundação Rainforest da Noruega e União Europeia
Parceria: Associação Dos Moradores da Reserva Extrativistas do Iriri (Amoreri), Associação Floresta Protegida (AFP), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), Associação Yudjá Mïratu Xingu (Aymïx) e Instituto Kabu
Parceiros da exposição: Cama Leão, Incentivem Soluções Culturais, Museu Nacional da República, Secretaria de Relações Internacionais e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal
Vídeos: Bebinho Salgado 45
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Publicação tem como base uma visita turística experimental; região conta com mais de 80 espécies características
O Conselho do Povo Indígena Ingarikó (Coping) elaborou o roteiro “Observação de aves na Serra do Sol”, que marca o primeiro esboço de um Plano de Visitação Turística da região Ingarikó Wîi Tîpî, no norte da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Trata-se de uma proposta-piloto, construída pelos próprios Ingarikó, que desejam desenvolver e conduzir, com apoio da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e de acordo com seus protocolos, as futuras atividades de visitação.
O Instituto Socioambiental (ISA) disponibilizou a publicação de 208 páginas em seu acervo público nesta quinta-feira (04/12).
Este roteiro foi baseado em uma expedição experimental realizada em março de 2024. O documento foi elaborado em conformidade com a IN 03/2015 da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que regulamenta o turismo em Terras Indígenas.
A partir desta experiência, o roteiro aponta que a atividade pode injetar até R$ 50 mil por expedição, beneficiando 45 indígenas que trabalham diretamente, outras pessoas que vendem artesanatos e alimentos tradicionais, além de um fundo comunitário.
O Coping elaborou o roteiro em parceria com a Kraioapa Assessoria, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de Roraima e uma equipe multidisciplinar, no âmbito do Projeto Aves na Terra de Siikë, financiado pela Fundação Grupo Boticário, entre 2023 e 2025. A publicação também contou com apoio da Funai e do ISA.
“Meu pai, que é antigo tuxaua da comunidade, sempre quis trazer o turismo. A visita experimental mostrou que, com o turismo, os jovens não precisam ir até a cidade para trabalhar e buscar dinheiro. O dinheiro pode vir até aqui”, disse o presidente do Coping, Vitalino Ingaricó.
Elaborado ao longo de dois anos, o roteiro foi entregue à Funai com um pedido de anuência para que as expedições possam ser realizadas.
A população Ingarikó é estimada em 2 mil habitantes vivendo em 16 comunidades. O objetivo das expedições para observações de aves é incentivar a permanência de jovens na região e diversificar as fontes de renda da população, através de atividades que promovam a sustentabilidade socioambiental.
“Jovens de toda a região Ingarikó devem participar das visitas experimentais e levar seus aprendizados para suas comunidades. Esses jovens serão como sementes do turismo”, afirma a liderança regional Dilson Ingaricó.
Expedição experimental
A expedição experimental ocorreu na última semana de março de 2024, época que antecede à estação mais chuvosa, com sete dias e seis noites de duração. Foram envolvidos seis turistas, um guia da Ornis Birding Expeditions, a operadora parceira, dois membros do Projeto Aves na Terra de Siikë e 45 Ingarikó diretamente remunerados, que foram selecionados durante a Reunião de Acordos e a Oficina de Capacitação para a Expedição Experimental, promovidas em 2023.
Entre 2010 e 2014, os Ingarikó promoveram quatro expedições turísticas entre a comunidade ingarikó Manalai e o monte Caburaí.
Desde 2010, os Ingarikó receberam capacitações em turismo, através de iniciativas de instituições parceiras do Coping, como o Instituto Federal de Roraima (IFRR), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o ICMBio.
Conforme a antropóloga Virginia Amaral, que atuou como coordenadora da equipe do projeto, a primeira etapa na elaboração do roteiro foi o processo de seleção de uma operadora de turismo que pudesse conduzir uma expedição experimental. E, assim, os Ingarikó chegaram à Ornis.
“Depois, houve uma oficina de acordos de governança e planejamento da expedição experimental em 2023. Em 2024, a expedição foi de fato realizada com seis turistas estrangeiros, sendo quatro dos Estados Unidos e dois de países europeus, Suíça e Bélgica”, explicou.
A trilha da expedição, que parte da comunidade Karumanpaktëi, está localizada em uma área de sobreposição entre a região Ingarikó Wîi Tîpî, da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, e o Parque Nacional do Monte Roraima, sendo utilizada para atividades de monitoramento da biodiversidade promovidas pelo ICMBio e os Ingarikó, que compartilham a gestão da Unidade de Conservação
“Toda a região Wîi Tîpî é reconhecida por ter grande potencial turístico, devido à sua riqueza cultural, à biodiversidade, à ocorrência de espécies animais e vegetais endêmicas e às paisagens exuberantes”, destaca trecho do documento.
Com a expedição experimental, os Ingarikó pactuaram que devem ocorrer até quatro visitas anuais com grupos de 10 pessoas. Eles entendem que esta frequência é o ideal para prestar o serviço com qualidade sem deixar as atividades tradicionais das comunidades de lado.
O roteiro prevê atividades que devem ocorrer antes, durante e depois das expedições. Para a execução das tarefas são necessárias 45 pessoas que, no conjunto, devem receber R$34,5 mil. O documento estima ainda a entrada na região Ingarikó de cerca de R$16 mil com a venda de artesanato e outros serviços tradicionais.
Observação de aves
Em 2023, o Brasil ocupava o 11° lugar no número de listas registradas no eBird, a principal plataforma de registro de observação de aves no mundo, gerida pelo Laboratório de Ornitologia da Universidade de Cornell, EUA.
A plataforma Wikiaves, site dedicado exclusivamente ao registro dos avistamentos das aves nacionais, contabiliza 51.600 observadores cadastrados, mais de 5,5 milhões de registros e 1.962 espécies da avifauna nacional registradas, em fevereiro de 2025.
No local indicado pelo roteiro dos Ingarikó, foram registradas mais de 80 espécies consideradas características do Pantepui (região formada pelos vestígios de terras altas do escudo das Guianas).
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Protagonistas de um sistema que integra ciência indígena e não indígena, eles fortalecem práticas tradicionais e inspiram ações de adaptação climática
Em 2025, a Rede de Agentes Indígenas de Manejo Ambiental (AIMAs) do Rio Negro completa 20 anos de uma experiência pioneira: unir conhecimento ancestral e métodos científicos para monitorar, diretamente das comunidades, os ciclos da natureza na região. O que iniciou sem foco climático, logo se tornou uma pesquisa intercultural contínua e abrangente que também investiga os efeitos da crise do clima para os povos indígenas da região, demonstrando que os impactos já se manifestam no cotidiano das comunidades.
Parte dos resultados de duas décadas de levantamento foi reunida e apresentada na 6ª edição da revista Aru, lançada durante a COP30, em Belém (PA). Criada pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), a rede de AIMAs atua em comunidades ao longo do Alto, Médio e Baixo Rio Negro e reúne hoje dezenas de pesquisadores indígenas dos povos Tukano, Baniwa, Desana, Baré, Tuyuka e Koripako, entre outros.
As observações, registradas em diários, agendas e tablets, incluem dados sobre o comportamento dos rios, florações, migrações de peixes e aves, piracemas, doenças, festas e benzimentos. Os registros revelam a força dos extremos climáticos, como secas prolongadas, incêndios em áreas de igapó e enchentes recordes, que têm provocado perdas de roças, mudanças na disponibilidade de peixes e riscos à segurança alimentar e à cultura dos povos indígenas.
Segundo o pesquisador Roberval Pedrosa, do povo Tukano, que completa junto com o projeto 20 anos de monitoramento e pesquisas, o trabalho diário é a base de todo o conhecimento produzido: “Todo dia a gente escreve. Amanheceu nublado? A gente anota. Choveu? Escreve quanto tempo. Observamos as constelações, fazemos desenhos, registramos tudo. Aprendemos escrevendo.” E acrescenta: “Hoje nós, pesquisadores indígenas, somos como uma pequena chave que ajuda a esclarecer o que realmente está acontecendo no planeta.”
Os AIMAs, mais do que observadores, se tornaram ao longo destes 20 anos protagonistas de um sistema que integra ciência indígena e não indígena. Eles formam jovens pesquisadores, fortalecem práticas tradicionais e inspiram ações de adaptação climática – o principal foco dos debates da COP30 no Brasil.
“Quando começamos, a ideia era apenas fazer um monitoramento geral dos territórios, registrar o que acontecia nas comunidades. Mas logo ficou evidente que esse projeto poderia medir os impactos da crise climática na Amazônia e entender como os povos indígenas enfrentam essas mudanças”, afirmou Aloísio Cabalzar, antropólogo e assessor do projeto pelo ISA, durante o lançamento nesta quinta-feira (13/11) na Galeria Benedito Nunes, na capital paraense.
No dia 10, foi inaugurada no mesmo espaço cultural uma mostra com obras dos artistas indígenas rionegrinos Feliciano Lana, Ismael dos Santos e dos AIMAs, e de outros artistas indígenas de outras partes do mundo, organizada pelo Instituto Goethe, aberta ao público até 28 de novembro, com entrada gratuita. A exposição permitiu aos presentes ao lançamento da Aru conhecer os desenhos de constelações e outros registros produzidos pelos AIMAs, enquanto conversavam com os pesquisadores.
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Conhecedores da Amazônia
Ainda não quinta-feira, na parte da tarde, a Aru 6 teve lançamento no Rainforest Pavilion da Blue Zone, com a presença de Hélio Monteiro Lopes, do povo Tukano e diretor-executivo da Foirn e Sandra Gomes, liderança do povo Baré.
Participação das mulheres indígenas
Oscarina Caldas, do povo Desana, pesquisadora da rede há dez anos e que compareceu aos dois eventos, destaca que o trabalho dos AIMAs segue os ritmos da natureza. “A gente reúne todas as observações e se inspira nas constelações. Dentro do ciclo anual, seguimos o caminho delas. Nosso calendário é vivo.”
Embora ainda minoritária, a participação feminina na rede vem crescendo, assumindo papel essencial na transmissão de conhecimentos conectados às atividades e vivências tradicionais das mulheres indígenas.
Oscarina, que também é conhecedora das roças e do Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, lembra que grande parte desse conhecimento é preservado pelas mulheres e que os impactos da crise climática podem comprometer o bem-estar das comunidades. “Nossas avós deixaram esse patrimônio para nós. Cada prática precisa ser feita com cuidado para se manter viva e eficaz. Isso é nossa ciência.”
Ela reforça a importância do esforço coletivo dos AIMAs, que integra os ciclos da floresta, o céu e o cotidiano das comunidades: “Os conhecimentos que registramos são para que a nova geração leia, pratique e continue explorando o que ainda existe neste mundo”. Ao final, Oscarina fez um apelo: “Peço que sigam apoiando para manter nossa floresta em pé. É o nosso patrimônio, é o que respiramos.”
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Longa baseado em livro de mesmo nome acompanha a liderança yanomami Davi Kopenawa durante um Reahu no Watorikɨ
O filme A Queda do Céu estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira (20/11). O longa é baseado no livro homônimo escrito pelo xamã yanomami Davi Kopenawa e o antropólogo francês Bruce Albert.
Kopenawa é o personagem central do filme, que acompanha os Yanomami da comunidade Watorikɨ durante um Reahu — palavra que pode ser traduzida como "festa" do Yanomami para o português.
A Queda do Céu teve première no Festival de Cannes, dentro da prestigiada Quinzena dos Realizadores. Depois, estreou na França e nos Estados Unidos, além de ter passado em mais de 80 festivais.
“É uma alegria chegar ao Brasil com A Queda do Céu e poder trazer para os próprios brasileiros as palavras desse imenso pensador yanomami. Muitos aqui ainda não conhecem a força do pensamento de Davi Kopenawa. O filme é um convite para ver, ouvir e sonhar com os Yanomami um outro projeto de Brasil”, disse Gabriela Carneiro da Cunha, que assina a direção do longa com Eryk Rocha.
Antes da estreia oficial no país, o filme também contou com uma pré-estreia em Belém durante a COP em 13 de novembro e contará com outras duas sessões para convidados em São Paulo em 17 de novembro e no Rio de Janeiro no dia 19.
Lista de cinemas que exibirão “A Queda do Céu”
São Paulo – Belas Artes / IMS / Espaço Petrobras
Rio de Janeiro – Estação Net Rio (Botafogo)
Belo Horizonte – UNA Belas Artes
Poços de Caldas - IMS
Brasília – Cine Brasília
Salvador – Cine Glauber Rocha
Recife – Fundação Joaquim Nabuco
Fortaleza – Espaço Dragão do Mar
Manaus – Cine Casarão
Belém – Cine Líbero Luxardo
Macapá – Movieland
Boa Vista - Yanomax
Sobre o filme
A partir de três eixos fundamentais do livro (Convite, Diagnóstico e Alerta), o filme apresenta a cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri pë, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não- indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra.
Lançado em 2010, originalmente em francês, A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami reúne reflexões de Davi Kopenawa, contadas ao amigo Bruce Albert, sobre o contato de seu povo com os não indígenas desde os anos 1960.
“O filme é um diálogo com o livro homônimo de Davi Kopenawa, xamã yanomami e um dos maiores líderes indígenas do mundo, e Bruce Albert, antropólogo francês. A obra é considerada por muitos especialistas como uma das mais importantes da contemporaneidade”, explica a Aruac Filmes.
Além da produção da Aruac Filmes, o filme conta com apoio do ISA (Instituto Socioambiental), co-produção da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e Stemal Entertainment com Rai Cinema e produção associada de Les Films d'ici.
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Coordenador-geral de Programas e Ações de Combate às Discriminações no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Bruno demonstrou comprometimento com a luta indígena
O Instituto Socioambiental (ISA) vem manifestar solidariedade aos familiares, amigos e colegas de trabalho de Bruno Alves Chaves em razão do seu falecimento precoce no último domingo no município de Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas, dia 9 de novembro de 2025.
Enquanto profissional de serviço social e coordenador-geral de Programas e Ações de Combate às Discriminações do Departamento de Proteção Social Básica da Secretaria de Assistência Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Bruno Alves demonstrou ser uma pessoa extremamente comprometida com a luta indígena, atuando com ética, solidariedade e compromisso com os grupos mais vulneráveis, sobretudo nos últimos anos de sua carreira com os povos Yanomami e Ye’kwana.
Por meio de sua atuação, o ISA firmou parcerias e trocas com o MDS a fim de construir uma política de proteção social culturalmente adequada aos povos indígenas, com o intuito de superar as barreiras sociais, culturais, linguísticas e geográficas que impedem esses povos de acessar as políticas de assistência social de forma exitosa.
Bruno sonhava com a criação de um modelo de proteção social diferenciado, com especial atenção para os povos de recente contato, cuja vulnerabilidade nos centros urbanos é agravada justamente pela busca desassistida por direitos e serviços básicos.
Bruno perdeu sua vida no exercício de sua profissão, trabalhando em prol dos povos indígenas, missão que ele abraçou com tanto amor e dedicação. Seu legado, contudo, não se encerra aqui: ele será mantido pela continuidade do trabalho de todos aqueles que o apoiaram e compartilharam de seus ideais, garantindo que sua causa e seu exemplo permaneçam vivos entre nós.
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Documento reconhece esforços do governo, mas exige ações urgentes, como o combate à malária
Surucucu, conhecida como a região das serras e uma das regiões mais populosas da Terra Indígena Yanomami, foi o palco do VI Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana, reunindo mais de 550 pessoas para discussões na mais alta instância de decisões da Terra Indígena Yanomami de 20 a 24 de outubro.
O grande encontro deste ano resultou na Carta de Surucucu, direcionada ao Governo Federal. Os Yanomami e Ye‘kwana reconheceram os esforços que têm sido feitos desde a criação da Casa de Governo em fevereiro de 2024 e exigiram ações ainda necessárias, especialmente no combate à malária e na proteção territorial.
“As decisões aqui apresentadas não são palavras soltas. Elas são a nossa legítima voz e vontade, e é assim que devem ser tratadas, conforme manda o nosso protocolo de consulta”, diz trecho do documento que foca no combate ao garimpo e malária, além de pedir por educação adequada às necessidades do território.
Com a Carta de Surucucu, as lideranças também pedem ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Ministério da Justiça (MJ) que criem forças tarefas a fim de que o Poder Judiciário conclua inquéritos de investigação e processos em aberto.
“É hora de responsabilizar os chefes, os grandes criminosos! A lentidão da justiça pode levar à prescrição desses crimes”, diz trecho do documento.
Chegada a Kori Yauopë
Waihiri Hekurari, anfitrião do VI Fórum, começou a receber os convidados na comunidade Kori Yauopë dois dias antes do início do evento. Quando a equipe do Instituto Socioambiental chegou ao local, Waihiri se dividia entre cumprimentar os visitantes e trabalhar nos últimos ajustes das casas construídas para alojamento durante o Fórum.
Uma das vozes mais expressivas no combate ao garimpo e nas denúncias de descaso durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), Waihiri ficou mundialmente conhecido como Júnior Hekurari - nome que abandonou por sentir a necessidade de uma alcunha mais adulta e diretamente ligada a língua do seu povo. O novo nome carrega o mesmo peso que a palavra “guerreiro” em português.
Surucucu foi uma das regiões mais afetadas pelo garimpo ilegal durante a gestão Bolsonaro. Consequentemente também sofreu com a explosão de casos de malária e chocou o mundo com fotos de crianças e idosos desnutridos. Waihiri lembra o quanto temeu por seu povo.
“A Terra Indígena Yanomami sofreu uma invasão dos garimpeiros e foi bem próximo a minha comunidade, nós ficamos bem assustados com o incentivo que o ex-presidente Jair Bolsonaro fazia para os garimpeiros invadirem. Ele não nos protegeu como presidente do Brasil”, afirmou.
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) instaurou a Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), em janeiro de 2023, Surucucu rapidamente se tornou um dos pontos de atenção do governo.
“Eu ando muito nas comunidades e estou vendo a floresta renascer, estou vendo as águas renascerem e isso é ótimo para podermos viver sem adoecer de novo, mas não temos a garantia de como vai ser amanhã se a Casa de Governo for retirada. As ações do governo são provisórias, não tem lei que obrigue a manter toda esta operação”, pontua Waihiri.
A comunidade de Hekurari ganhou o primeiro Centro de Referência em Saúde Indígena do Brasil. Uma unidade inaugurada em 06 de setembro e que, conforme o Governo Federal, tem capacidade para beneficiar cerca de 10 mil indígenas de 60 comunidades, reduzindo remoções de média e alta complexidade para a cidade. Embora o Centro esteja pronto e equipado, os Yanomami ainda aguardam a chegada de profissionais qualificados para que os exames sejam realizados.
Uma imensidão de gente
Quando o VI Fórum começou na manhã ensolarada do dia 20, os representantes de diferentes regiões entraram no xapono se apresentando com cantos tradicionais, pintados com urucum e jenipapo e segurando flechas apontadas para cima. O momento cultural logo deu espaço para que cada associação apresentasse por uma hora as ações que têm feito em benefício dos Yanomami e Ye’kwana.
O resto da semana oscilou entre manhãs que começavam frias mesmo quando o sol podia ser visto enquanto a comunidade estava envolta em neblina e dias que mudavam rapidamente de ensolarado para tempestades. Mas nada disso impediu que os indígenas seguissem discutindo sobre educação, governança, projetos de crédito extraordinário e proteção territorial.
O xapono escolhido para abrigar as discussões ganhou uma arquibancada de madeira capaz de manter até 400 pessoas sentadas. Quando os indígenas sentavam nas fileiras, a casa coletiva era preenchida pelas mais diversas cores vibrantes de suas roupas e das penas que compunham seus adornos e artefatos. Uma verdadeira imensidão de gente.
Nos intervalos, os indígenas pegavam pratos de comida, sentavam ao redor do Xapono, esqueciam o celular e conversavam. E este cenário é o que Davi Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami, descreve como o sonho dele para o futuro da Terra Indígena Yanomami: sem internet, sem invasores, com saúde e o silêncio da floresta.
“Minha família está toda aqui porque todos são meus parentes e estão todos bonitos, pintados e fazendo uma festa no VI Fórum de Lideranças”, disse Kopenawa.
De frente para a arquibancada dentro do xapono, quatro grandes mesas estavam posicionadas e ocupadas principalmente pelos representantes das sete associações que compõem a frente de governança do maior território indígena do Brasil.
Se nos últimos dois anos os Yanomami e Ye’kwana chamaram o governo para dialogar e prestar contas, desta vez optaram por fortalecer as relações internas com um diálogo centrado nas necessidades apresentadas pelos indígenas que vivem na base e em apresentações de iniciativas das associações nos últimos anos. Embora descrevam a relação com o atual governo como boa, as lideranças tomaram esta decisão a fim de articular melhor a mensagem do que desejam do Estado de agora em diante.
“Lula está tentando consertar o que outras autoridades estragaram, principalmente Jair Bolsonaro que não foi bom presidente para governar o nosso Brasil. Enquanto o Lula é uma pessoa que gosta da natureza, que gosta da beleza e gosta de nós e cumpriu com a palavra que ele nos prometeu. Mas precisa continuar protegendo a nossa terra e não deixar entrar garimpeiros. Nós estamos juntos neste caminho”, afirmou Kopenawa.
Pelo segundo ano consecutivo, uma pequena delegação de Yanomami e Ye’kwana da Venezuela participou do Fórum de Lideranças. Anñelito Hernandez, que veio da comunidade San Martín, localizada no Alto Ventuari, disse que a participação foi importante para entender os avanços que as associações brasileiras tiveram.
“Vimos que existe um acompanhamento por parte do Estado, um compromisso com as comunidades. Também é importante para que possamos trocar informações sobre o que acontece na Amazônia venezuelana e brasileira. Precisamos discutir o futuro da natureza, da biodiversidade e existência dos povos originários”, afirmou.
Na Venezuela, o primeiro passo para demarcação de um território é a aprovação do Protocolo de Consulta. No entanto, há quase duas décadas o governo não valida protocolos de consulta de povos indígenas.
Pedidos contra o garimpo
Elayne Rodrigues Maciel, coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kuana da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), foi uma das poucas representantes governamentais convidada ao evento. Maciel aproveitou o momento para explicar que o diálogo entre as comunidades e associações é imprescindível para a compreensão da necessidade de novas bases de proteção e postos de vigilância da Funai.
“A gente precisa de muito apoio dos indígenas porque muito do que sai de operações é do que eles trazem de apoio para nós. Não temos como adivinhar onde os garimpeiros estão escondidos se não houver os indígenas para informar para nós onde estão os garimpeiros”, disse.
Maciel também explicou que as forças de segurança estão atuando de forma conjunta para combater o garimpo e apreender materiais retirados ilegalmente de terras indígenas. No início de agosto deste ano, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) fez a maior apreensão de ouro da história do país na BR-401 em Boa Vista.
“O que eu peço a sociedade não indígena é que não compre porque quando vocês compram ouro estão financiando a invasão de outras terras indígenas. Eu sei que o ouro tem importância na vida dos não indígenas, é visto como algo bonito, mas causa sofrimento aos povos da floresta. Seja amigo do povo Yanomami porque não queremos mais chorar pela procura do ouro dentro da nossa terra”, suplicou Waihiri Hekurari.
A Carta de Surucucu indica que a FUNAI precisa avançar na implementação das Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes) e apoiar o Plano de Vigilância Indígena da Terra Indígena Yanomami.
Ainda referente ao combate ao garimpo, as lideranças pedem no documento que haja celeridade nos inquéritos e julgamentos de garimpeiros e financiadores da atividade ilegal, manutenção da Casa de Governo e operações de desintrusão, além de aprovação do Projeto de Lei 3.776/2024, que prevê aumento de penas mínimas.
Pedidos sobre Saúde
Conforme a Carta de Surucucu, houve 14.615 casos positivos de malária só nos primeiros oito meses deste ano. A quantidade é preocupante, pois a população Yanomami é estimada em cerca de 30 mil pessoas. O documento aponta que há esforços para reestruturação da Saúde e que houve uma queda de 20% no número de casos positivos em comparação ao mesmo período de 2024, mas pedem que as equipes de saúde foquem no diagnóstico rápido.
“É preciso que as equipes do DSEI-YY, junto com nossos agentes de saúde indígena, estejam presentes nas nossas comunidades, fazendo busca ativa e oferecendo tratamentos imediatos para romper o ciclo da malária”, diz trecho da carta.
A presidenta da Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Carlinha Lins, demonstrou preocupação com a saúde das mulheres que vivem no território.
“Em nome das mulheres, o meu desejo é que haja formações para podermos usar remédios que nos são dados da natureza, um fortalecimento da medicina tradicional e das parteiras”, disse, acrescentando estar preocupada com o número de casos de câncer de colo de útero.
Neste ano, mulheres Agentes de Saúde Indígena (AIS) foram formadas para prevenção do câncer de colo de útero e o tema também foi discutido durante o XVI Encontro de Mulheres Yanomami.
Pedido sobre Educação
A carta também reforça o desejo dos Yanomami e Ye’kwana por uma educação diferenciada com Territórios Etnoeducacionais como caminho para terem acesso a escolas diferenciadas, bilíngues e interculturais.
“Os jovens cobram a gente. Na minha comunidade, eles nos cobram por ajuda na educação, é o principal pedido. Eles querem o fim das invasões e querem frequentar escolas”, pontuou Júlio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume).
Neste ano, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) formou os três primeiros mestres Yanomami. Eles tiveram uma atenção especial desde a fase do pré-projeto, que foram escritos em língua nativa, até as aulas que chegaram a ocorrer dentro da comunidade com a presença de professores universitários. Provando que com a adaptação necessária, os Yanomami e Ye’kwana podem chegar a novos espaços e contribuir com ciência e educação a partir da própria cosmovisão.
O documento das lideranças solicita uma reunião com representantes do Ministério da Educação na Terra Indígena Yanomami. Eles solicitam ainda que a reunião respeite o tempo das lideranças e o Protocolo de Consulta.
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Produzidos pelo ISA, "Fogo na Floresta" e "Fazedores de Floresta" têm direção de Tadeu Jungle e apresentam temas de combate aos incêndios e restauração ecológica na Bacia do Rio Xingu
Considerado o mais importante evento audiovisual voltado à discussão socioambiental da América do Sul, a Mostra Ecofalante de Cinema preparou extensa programação que acontece durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que acontece de 10 a 21 de novembro.
No novo Sesc Doca, em Belém, a mostra Ecofalante Apresenta Realidade Virtual na COP30 fica em cartaz de 7 a 21 de novembro, com entrada franca. Na programação estão “Fogo na Floresta” e “Fazedores de Floresta”, dirigidos por Tadeu Jungle. Os filmes trazem os desafios da adaptação climática em terras indígenas e áreas de restauração ecológica na bacia do rio Xingu.
No canal TVE Bahia, “Escute: A Terra Foi Rasgada” (Direção: Cassandra Melo e Fred Rahal Mauro) será exibido no dia 01/11 às 21h, e “Mapear Mundos” (Direção: Mariana Lacerda) será exibido no mesmo canal em 02/11, às 22h30.
Sobre os filmes
Vencedor do prêmio de melhor documentário internacional no Big Syn International Film Festival, de Londres, “Escuta: A Terra Foi Rasgada” (2023) aborda a luta e o pensamento dos povos Yanomami, Munduruku e Kayapó contra os impactos da exploração de ouro em seus territórios, sendo destacada a aliança histórica desses povos em defesa de seus territórios. Assinada por Cassandra Melo e Fred Rahal Mauro.
Em “Mapear Mundos” (2024), imagens de arquivos indigenistas com testemunhos atuais são articulados para rememorar os passos dados por organizações da sociedade civil, em um contexto de ditadura militar (1964-1985), pela garantia de direitos dos povos originários no Brasil.
“Fogo na Floresta” (2020) é um documentário de curta-metragem realizado em realidade virtual sobre o povo Waurá, uma etnia indígena de 560 pessoas que vive no Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. O filme passeia pelo cotidiano da aldeia Piyulaga e revela que os índios mantêm sua cultura tradicional ao mesmo tempo em que incorporam hábitos e tecnologias dos “brancos”. O curta é um alerta para o fogo que, devido ao desmatamento no entorno do parque e o agravamento das mudanças climáticas, saiu do controle e ameaça as florestas e a vida no Xingu.
Em “Fazedores de Florestas” (2021), o realizador mergulha na experiência do Instituto Socioambiental (ISA) e da Rede de Sementes do Xingu que juntou pessoas, conhecimentos e sementes nativas para recuperar áreas degradadas nas bacias dos Rios Xingu, Araguaia e Teles Pires, no norte de Mato Grosso, em uma iniciativa que conseguiu regenerar mais de 6 mil hectares de Floresta Amazônica.
Sobre a COP30
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) é um importante evento planetário cuja 30ª edição acontece em Belém, de 10 a 21/11. Nele estarão reunidos líderes mundiais, cientistas e a sociedade civil para debater e definir ações de combate às mudanças climáticas.
Sobre a Ecofalante
Organizadora da Mostra Ecofalante de Cinema, cuja 14ª edição aconteceu no último mês de junho, a Ecofalante é uma Organização da Sociedade Civil fundada em 2003 com o objetivo de criar e desenvolver projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável, por meio da educação e da cultura.
Sobre o ISA
O Instituto Socioambiental (ISA) é uma associação sem fins lucrativos fundada em 1994, por pessoas com formação e experiência marcante na luta por direitos socioambientais no Brasil. O ISA trabalha lado a lado com comunidades extrativistas, quilombolas, ribeirinhas e indígenas, seus parceiros históricos, apoiando e fortalecendo sua participação política, sua cultura, seus conhecimentos tradicionais e projetos de geração de renda como estratégias para a proteção e gestão territorial de Terras Indígenas e Áreas Protegidas.
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