Assessora jurídica da Coiab teve atuação decisiva na defesa dos direitos indígenas ante a ameaça do “Marco Temporal” e da pandemia de Covid-19
Nesta terça-feira (16/07), Cristiane Soares Baré, ou Cristiane Baré, ancestralizou.
Cris, como era conhecida carinhosamente pelos mais próximos, nasceu em São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro (AM) e, desde jovem, atuava no movimento indígena. Ela foi coordenadora do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam).
Formada em direito pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), foi secretária-adjunta da Comissão Especial de Defesa dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e advogou nos últimos anos pela Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
Também foi sócia fundadora do Podáali, tendo contribuído em todo o processo de criação do Fundo Indígena da Amazônia Brasileira.
Durante a pandemia de Covid-19, Cris se dedicou bravamente a apoiar a Coiab nas denúncias sobre o descaso com os povos indígenas da Amazônia e na distribuição de kits de higiene, limpeza e proteção, entre outras medidas.
No fim do ano passado, participou do seminário “Direitos Humanos: Racismo ambiental, migrações e ações coletivas”, organizado pelo Observatório de Direitos Humanos do Poder Judiciário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde lembrou dos impactos socioambientais de atividades e projetos econômicos predatórios que, dia a dia, assolam a vida dos indígenas.
Ela também foi uma das advogadas indígenas que, em setembro de 2022, fez a sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF), no paradigmático julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 1.017.365, que definiu a inconstitucionalidade da nefasta tese do “marco temporal” da demarcação das Terras Indígenas
Na ocasião, lembrou que os povos indígenas têm a convicção de que “plantas, animais e água têm espírito, e, neste sentido, também se constituem como seres históricos e políticos”.
“O território, para nós, não é algo abstrato. Nós somos o território, nós somos as florestas, nós somos o bioma. Um não vive sem o outro. Os seres que vivem nesse território também são seres de importância. É a nossa cosmovisão. Para nós, os rios têm vida, a floresta tem vida, e são esses seres que a gente tem que proteger”, disse em junho de 2023, no Acampamento da Mobilização Nacional contra o Marco Temporal, em Brasília.
Cris parte deste mundo, no entanto, sem ver a questão resolvida, assim como tantos que vieram e ancestralizaram antes dela, nos deixando seu legado de luta e esperança de que os direitos indígenas sejam garantidos e respeitados.
Nos solidarizamos com sua família, amigos e com todos da Coiab neste momento de dor.
Descanse em paz, guerreira Cristiane Baré.